segunda-feira, 8 de setembro de 2025


08 de Setembro de 2025
OPINIÃO RBS

Entre a queda das vendas e a esperança

Era de se esperar que, diante de um cenário altamente desfavorável para os agricultores, a Expointer 2025 não conseguisse manter tradição de recordes de negócios batidos a cada ano. As vendas totais até a metade da tarde de ontem, dia do encerramento da 48ª edição da mostra, chegaram a R$ 4,4 bilhões, 45% abaixo de 2024.

O Estado vem de uma sequência poucas vezes vista de estiagens que frustraram várias safras. O preço dos grãos está longe dos melhores patamares. O resultado são dificuldades financeiras que têm levado a um alto endividamento e a falta de condições de investir neste momento em maquinário novo. Tratores, colheitadeiras e implementos são os grandes motores de vendas da feira. A taxa Selic em 15% ao ano, maior nível desde 2006, e a incerteza causada pelo tarifaço de Donald Trump, são outros elementos a inibir os negócios. Como cautela é a palavra de ordem, a comercialização de máquinas caiu 51% ante o ano anterior, para R$ 3,7 bilhões.

Mas é precipitado medir o grau de sucesso de uma mostra tão diversa como a Expointer apenas pela venda de máquinas. Podem ser enumerados diversos fatores que apontam para uma feira exitosa e, quem sabe, para dias melhores no campo. Uma das principais características da feira é ser um elo entre o rural e o urbano. O recorde de público, quase 1 milhão de pessoas, demonstra o grande interesse da população em ter contato com o setor que é base da economia gaúcha, como os exemplares animais de ponta e as grandes novidades tecnológicas.

O Pavilhão da Agricultura Familiar iniciou essa edição com o maior número de expositores já registrado e bateu recorde de faturamento (R$ 13,6 milhões). É a demonstração de força das pequenas agroindústrias do Estado, que com as delícias que produzem cativam cada vez mais o paladar do consumidor. É, sem dúvida, um segmento de grande potencial gerador de renda no campo.

Também merece registro a quantidade inédita de animais inscritos. A pecuária, deve-se lembrar, está na origem da Expointer e, por muito tempo, bovinos, ovinos e equinos foram as grandes estrelas do evento de Esteio. Não pode ser esquecido ainda que, após dois anos de ausência, por aspectos sanitários, as aves voltaram à feira. Trata-se de uma conquista após a apreensão gerada no setor pelos aparecimentos - exemplarmente contidos - da doença de Newcastle e da gripe aviária. A carne de frango é a principal proteína animal exportada pelo RS.

A Emater divulgou as suas previsões para a safra de verão e, por enquanto, não há grande risco climático à vista. Confirmando-se o cenário, o Estado pode colher 35,32 milhões de toneladas, 27% acima do ciclo anterior. Também pela mobilização foi possível obter do governo federal, com as últimas tratativas ao longo da Expointer, um pacote para renegociar dívidas de parte dos agricultores. Assim, poderão acessar novos recursos para preparar a safra que se avizinha.

Pela multiplicidade de setores que engloba, pelo interesse do público e pelo alento de uma possível safra melhor, junto ao fôlego para milhares de produtores ameaçados pela insolvência, é possível afirmar que, apesar dos números totais muito abaixo de 2024, a 48º Expointer também chega ao fim com a marca da esperança. _

É precipitado medir o grau de sucesso de uma mostra tão diversa como a Expointer apenas pela venda de máquinas

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