sexta-feira, 26 de setembro de 2025


26 de Setembro de 2025
OPINIÃO RBS

dramas pessoais

A história se repetiu e o desempenho da economia do Rio Grande do Sul foi mais uma vez derrubado por uma estiagem. Passa da hora de começar a dar fim a essa recorrência. No segundo trimestre, período que concentra a colheita da soja, o PIB gaúcho encolheu 2,7% ante o mesmo período de 2024, mostrou na quarta-feira o Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado. O tombo foi puxado pela agropecuária, que teve queda de 21,4%, anulando os desempenhos da indústria, de 4%, e dos serviços, que avançaram 2,4%. No acumulado do ano o PIB ainda sobrevive no azul, com uma alta tímida de 0,5%.

O clima tem sido um fator frequente a frear a economia do RS, em especial nesta década, com vários episódios de falta de chuva no verão que levaram à quebra de safras de culturas de sequeiro, como a soja e o milho. É na oleaginosa, pelo alto valor da produção, o maior impacto. Impõe-se reiterar o alerta de que o problema será continuado se não existir uma ampliação significativa na área irrigada no RS. Hoje, conforme o governo gaúcho, a irrigação alcança apenas 4% das áreas de sequeiro.

Perder altos volumes de produção não significa apenas queda no PIB, um indicador que parece abstrato. O número exprime o prejuízo de milhares de agricultores. A sequência de vários anos praticamente consecutivos de frustração criou um quadro de dificuldades financeiras poucas vezes visto no campo, situação que levou à mobilização dos agricultores por uma ampla renegociação das dívidas. Trata-se de uma dificuldade que contamina negativamente as demais atividades - indústria, comércio e serviços -, em especial nas regiões mais vocacionadas à agropecuária.

Iniciativas pontuais para ampliar a reservação de água e a implantação de sistemas de irrigação não têm sido suficientes. Entre elas está a possibilidade de intervenção em áreas de preservação permanente (APPs) para armazenamento hídrico. O governo gaúcho também tem uma iniciativa para subsidiar projetos de irrigação, mas a procura mostra-se abaixo do que seria razoável. Em junho, a Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei que dispensa a outorga de uso da água a produtores familiares. Há outros gargalos a resolver, como a disponibilidade de energia. É ainda comum o tema cair no esquecimento logo após um verão generoso.

É ilusório imaginar o uso massificado da irrigação pelas inúmeras dificuldades existentes, como as estruturais, de legislação e de realidade em cada propriedade. Ainda assim, diferentes estimativas apontam espaço para um avanço significativo. O ex-secretário da Agricultura e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, Domingos Velho Lopes, diz existir potencial para chegar a 75% da área. Um estudo com participação da UFRGS indicou capacidade para construir até 5,4 mil barragens no noroeste gaúcho.

É preciso persistir para mudar essa realidade ao longo do tempo e se adaptar a um cenário de estiagens mais recorrentes. No momento, há o entrave adicional do endividamento e do alto juro no país, o que desencoraja investimentos pesados e que signifiquem um compromisso financeiro por longo tempo. Mas se deve lembrar que a irrigação é um seguro e não se limita a evitar perdas: é garantia de alta produtividade. 

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