
A influência da química
Você já odiou alguém sem conhecer? Até que a encontrou presencialmente, e o mal-estar se desfez quase por um feitiço. O preconceito não condizia com a realidade. No trato, o inimigo imaginário se revelou cordial, atento, carismático.
Quando o tarifaço americano contra as exportações brasileiras e as punições já estavam em curso, quando se especulava sobre novas retaliações da Casa Branca após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos golpistas de 8 de janeiro, quando a aplicação da Lei Magnitsky havia se estendido a pessoas próximas do ministro do STF Alexandre de Moraes, um esbarrão na Assembleia Geral da ONU mudou o rumo da história.
Lula e Trump foram além do aperto de mão: abraçaram-se nos bastidores dos líderes em Nova York, na terça-feira.
A situação sugere um conto de fadas: o olho no olho, a informalidade física derrubaram as barreiras ideológicas. Embora o temperamento ciclópico do republicano não garanta normalidade - ele troca de lado na guerra da Ucrânia a toda hora, mostrando-se imprevisível e litigioso, capaz de impor uma armadilha a qualquer instante -, nada desabona, por enquanto, o estado de graça, a súbita empatia.
Pode ser que menos de um minuto tenha alterado a escrita dos anos seguintes.
Não acredito que repensem suas posições em questões centrais. O mandatário dos EUA continuará enxergando o julgamento de Bolsonaro como "caça às bruxas", um dos motivos para as sobretaxas. Mas existe chance de ele flexibilizar os pontos mais evidentes de choque e atrito, em favor de eventuais acordos econômicos.
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