LUIS FERNANDO VERISSIMO
Às 16h55min de sábado, em meio a aplausos calorosos e olhares emocionados, o corpo do escritor Luis Fernando Verissimo deixou o Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Estado, onde ele estava sendo velado desde o meio-dia. O ataúde seguiu para sepultamento no Cemitério São Miguel e Almas, em ato reservado a familiares e amigos próximos.
O velório esteve aberto a quem desejasse se despedir do escritor até seu encerramento. A informação inicial era de que uma cerimônia de despedida restrita a familiares seria realizada a partir das 16h45min, quando as portas seriam fechadas ao público externo. Contudo, o fim da cerimônia foi anunciado ao microfone às 16h55min, e o corpo do escritor foi cortejado pelo público até a saída da Assembleia Legislativa.
O esquife que guardava o célebre escritor, romancista e saxofonista permaneceu com o tampo fechado. Um buquê de rosas brancas repousava sobre o ataúde, junto de uma flâmula do Internacional, uma das paixões de Verissimo. Estiveram presentes familiares do escritor, como a esposa Lúcia Verissimo e os filhos Fernanda, Mariana e Pedro. Amigos e autoridades também compareceram, como o presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas (PT), que celebrou os personagens de Verissimo, a sua capacidade de captar de forma bem-humorada os aspectos da vida cotidiana e a contribuição para as artes.
- Quando eu era prefeito de Caxias do Sul, ele foi patrono da feira do livro. Teve um debate e perguntaram quem era a musa inspiradora do Verissimo. Ele respondeu que, além da Lúcia, a musa inspiradora dele, como cronista, era o prazo de entrega - recordou Pepe.
O prefeito Sebastião Melo chegou às 12h30min.
- A cidade se despede de um dos ícones da escrita, do jornalismo e das artes. Um legado enorme para a literatura do Brasil. Que descanse em paz - afirmou Melo.
Amor à Capital
Pedro Verissimo comentou a relação do seu pai com Porto Alegre e o carinho recebido nos dias que antecederam a partida. O escritor viveu por alguns anos nos Estados Unidos entre a infância e o início da vida adulta. Também residiu por um período no Rio de Janeiro, na década de 1960. A maior parte de seus 88 anos, contudo, foram desfrutados na capital gaúcha.
- Ele tinha um amor especial por Porto Alegre. Tanto que nunca quis sair daqui, mesmo sendo um autor de alcance nacional - comentou Pedro.
O ex-governador Tarso Genro celebrou a arte de Verissimo, mas também a cidadania.
- Ele é um dos cinco grandes intelectuais da história do Rio Grande do Sul. E teve a coragem cívica de se posicionar em todas as grandes questões que o país atravessou - saudou Tarso.
O ex-senador Pedro Simon chegou, em cadeira de rodas, por volta das 16h, permanecendo até o fim da cerimônia. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que veio a Porto Alegre para um ato do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), também compareceu representando o chefe do Executivo nacional, Luiz Inácio Lula da Silva.
Presidente de Honra da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Batista Filho destacou o caráter cidadão de Verissimo e relembrou que, além de colorado, ele também nutria simpatia pelo Botafogo.
- Ele tinha um humor clássico e uma crítica profunda de extremo conteúdo social - declarou.
O governador Eduardo Leite chegou à Assembleia Legislativa em torno das 14h30min.
- A produção e a obra que ele tem, naturalmente, fazem com que permaneça vivo - homenageou Leite.
Jornalistas
O velório também foi marcado pela presença de artistas e personalidades da cultura gaúcha, como o músico Duca Leindecker, o ator Zé Vitor Castiel, a jornalista Katia Suman e os escritores Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Sergio Faraco e Eduardo Bueno.
Jornalista com atuação em distintas redações do Brasil, Bueno salientou o privilégio de ter compartilhado com Verissimo a profissão e a amizade.
- Convivemos na casa dele e nas redações do Estadão e da Zero Hora - declarou Bueno.
Jornalistas e autoridades ligadas ao Grupo RBS também estiveram presentes, como a apresentadora Cristina Ranzolin, a diretora-executiva de Jornalismo e Esporte, Marta Gleich, e o publisher e presidente do Conselho da RBS, Nelson Sirotsky.
Verissimo foi colunista de Zero Hora durante décadas, o que foi lembrado por Sirotsky:
- Luis Fernando Verissimo é alguém que ficará para a eternidade e que teve uma jornada memorável na nossa história. Através da sua obra, seus livros e suas crônicas, ele construiu um legado que é eterno. _
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou homenagem no X: "Dono de múltiplos talentos, cultivou inúmeros leitores em todo o Brasil com suas crônicas, contos, quadrinhos e romances. Criou personagens inesquecíveis, a exemplo do Analista de Bagé, As Cobras e Ed Mort".
Em uma postagem no Instagram, o cartunista Angeli expressou sua solidariedade à família de Verissimo, acompanhado de uma charge que mostra o cronista com uma de suas paixões: o saxofone. O dramaturgo Walcyr Carrasco, pelo X, prestou uma homenagem ao escritor, o qual definiu como "gigante que fez da simplicidade sua genialidade".
Importância
Verissimo começou a carreira como revisor do jornal Zero Hora, que anos mais tarde publicaria suas crônicas. A diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS, Marta Gleich, destacou a importância do escritor para o jornal:
- Luis Fernando Verissimo foi, por décadas, uma das presenças mais consistentes de Zero Hora, onde elevou a crônica ao patamar de reflexão cultural e social. Com precisão de linguagem, criatividade, ricos personagens e olhar único sobre as sutilezas do cotidiano, conferiu ao jornal uma dimensão literária singular, ampliando sua relevância. A contribuição de Verissimo ajudou a consolidar Zero Hora como espaço de convivência entre informação e literatura, no qual o leitor encontrava não apenas notícia, mas também interpretação sensível e irônica do país e de sua época - disse.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o publisher e presidente do Conselho do Grupo RBS, Nelson Sirotksy, falou sobre a importância de Luis Fernando Verissimo para a literatura brasileira.
- A obra de Luis Fernando Verissimo é tão sólida, é tão importante, é tão relevante, que ela se eterniza. As próximas gerações terão a oportunidade de ler os livros, de ler as crônicas que o Luis Fernando produziu ao longo de toda a sua vida. Então, esse é um desses profissionais, uma dessas pessoas que literalmente são imortais - destacou Sirotsky - Nós da RBS temos uma gratidão muito grande à colaboração que o Luis Fernando deu especialmente para a Zero Hora - concluiu.
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