
Senhorinhas e senhorzinhos
Pois não é que os jovens - e até uns e outras nem tão jovens assim - deram para chamar pessoas mais vividas de senhorzinho e senhorinha. Sei que muitos o fazem com boas intenções, imaginando ser uma forma respeitosa de se referir a alguém com mais rodagem, mas a impressão que fica (pelo menos para mim) é sempre de ironia e sarcasmo. Ouço de uma conversa entre adolescentes:
- Aí, perguntei para um senhorzinho se ele estava na fila...
Tradução do tico para o teco no meu cérebro: "Perguntei para um velhinho...". O distanciamento e o desdém até podem não ser intencionais, mas ficam evidentes. Como na crônica do (este, sim!) imortal, inesquecível e inimitável Luis Fernando Verissimo em que o cronista relata o momento em que se deu conta de que estava ficando velho. Pegou um táxi no Rio de Janeiro e o carro teve que parar no caminho por causa de um pneu furado. O motorista saiu do veículo, chamou socorro pelo celular e enfatizou:
- Venham rápido que tá um sol danado aqui e estou com um idoso no carro.
A bem da verdade, dificilmente alguém nos chama de idoso ou senhorzinho na nossa cara. Pelo menos, eu nunca fui abordado por algum jovem com indagação deste tipo:
- O senhorzinho tá na fila?
Na nossa frente, no chamado papo reto, somos senhores e senhoras. Quando não estamos na roda da conversa, porém, viramos anciãos, matusaléns, caquéticos, ainda que edulcorados pelos eufemismos supostamente gentis: senhorzinho e senhorinha.
Além de inequívoco etarismo, o tratamento denota também uma certa segregação social. Pessoas famosas e autoridades nunca são reduzidas aos diminutivos referidos. Quem, por exemplo, teria coragem de chamar uma ministra do Supremo de senhorinha?
E olha que ela parece nem se importar. Em meio àquela enxurrada de juridiquês que assolou o país na semana passada, a supracitada senhora protagonizou um dos raros momentos de descontração do histórico julgamento ao afirmar que um colega de toga teria assumido o compromisso de cantar na sua festa de 104 anos.
- E que não será amanhã! - apressou-se em acrescentar, provocando risos dos demais magistrados.
O humor, senhoras e senhores, é o nosso contraponto. E o nosso consolo. _
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