
OPINIÃO RBS
Conhecer para prevenir
As tragédias provocadas pelas grandes chuvaradas que castigaram o Rio Grande do Sul em 2023 e 2024 soaram o alerta para a importância de um maior conhecimento sobre pontos vulneráveis a inundações e deslizamentos. Mapear essas áreas e tentar agir de forma preventiva nelas, para evitar a perda de vidas e a devastação de patrimônio, passa a ser uma ação básica do poder público. Não há mais espaço para a imprevidência diante das advertências repetidas da ciência sobre a ocorrência de eventos climáticos extremos mais frequentes e ferozes daqui para a frente.
Nesse sentido, é de substancial valor o conjunto de estudos que identificou zonas de risco em 95 municípios gaúchos entregue na semana passada pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), vinculado ao Ministério de Minas e Energia. O levantamento mostra a existência de 1,9 mil pontos que merecem atenção nessas cidades. Essas áreas concentram cerca de 154 mil imóveis, onde moram aproximadamente 564 mil pessoas. Trata-se de um trabalho minucioso, com o diagnóstico de cada local. É um instrumento de grande utilidade para ser usado pelo Estado e pelos municípios. Não apenas pelos Executivos, mas também pelos Legislativos.
Com essas informações, é possível ter maior precisão no planejamento de intervenções, como a transferência de famílias de locais de risco, projetos de drenagem, proteção de encostas e implantação de sistemas de monitoramento e avisos de desastre, entre outras ações, como políticas de ordenamento territorial. Embora as inundações tenham chamado maior atenção nos últimos dois anos, o trabalho do SGB aponta a relevância de cuidados nas regiões onde o maior perigo é o movimento de massa.
Os municípios onde foram detectados os maiores números de áreas de risco são os serranos Caxias do Sul (145), Nova Petrópolis, Gramado e Veranópolis (68 cada um). Precisa ser ressaltado que a quantidade de pontos suscetíveis no Estado é maior. Porto Alegre e Santa Maria, por exemplo, não integraram o levantamento por estarem passando por estudos considerados mais abrangentes, mas para a mesma finalidade. No entanto, para os 95 municípios contemplados, não há mais justificativas para procrastinar o início de medidas preventivas.
O SGB também entregou oficialmente o sistema de monitoramento da Bacia do Guaíba, ferramenta essencial para prevenir a população contra cheias. A disponibilização de informações em tempo real sobre o nível dos rios é basilar para a tomada de decisões das autoridades e para a orientação das comunidades onde há ameaça de inundação.
Os dois instrumentos ajudam a fortalecer a resiliência climática do Rio Grande do Sul. Com eles, é possível evitar que novos episódios de chuva com volume excessivo ceifem vidas e trabalhar para mitigar o risco de perdas materiais. Basta lembrar que apenas os episódios de setembro de 2023 e de maio de 2024 causaram mais de 230 mortes e deixaram ao menos 25 mil famílias sem casa, sendo que quase 20 mil ainda amargam a agonia da espera por um teto definitivo. São desastres humanos como esses que é dever evitar.
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