sexta-feira, 5 de setembro de 2025


 05 de Setembro de 2025
CARPINEJAR

Corpo numa mala, onde vamos parar?

Descobriu-se um corpo dentro de uma mala no guarda-volumes da Rodoviária de Porto Alegre na segunda-feira. A vítima, uma mulher na faixa dos 50 anos, ainda não foi identificada. O vigia descortinou o conteúdo da macabra bagagem porque ninguém mais aguentava o cheiro.

O tronco humano tem o mesmo DNA dos restos mortais encontrados no bairro Santo Antônio, na Zona Leste, em 13 de agosto. Quem mata, corta o cadáver e demonstra a calma de condicioná- lo num armário coletivo em um dos lugares mais movimentados da Capital, que recebe em média de 6 a 7 mil passageiros por dia?

O horror vem tomando conta do Rio Grande do Sul, com aberrações cada vez mais frequentes.

Em Canoas, a Polícia Civil deu início à Operação Carrasco, realizada na manhã de ontem, com o objetivo de apurar denúncias do uso da estrutura do município para matar animais fragilizados.

Relatos apontam que teriam sido sacrificados entre 15 e 30 animais por semana, principalmente cachorros e gatos, numa fábrica secreta de extermínio. No total, estimam-se 239 eutanásias em oito meses, número considerado excessivo por protetores que auxiliam as autoridades.

Novamente o odor serviu de advertência da anormalidade. Durante a ação, houve o flagrante de, pelo menos, 14 bichos sem vida guardados em sacos plásticos num freezer. Além disso, a sede da Secretaria Municipal de Bem-Estar Animal (SMBEA) apresentava um container fechado, com ausência de ventilação, onde felinos eram mantidos em gaiolas, alguns até desprovidos de caixa de areia.

De acordo com a delegada do caso, funcionários delataram uma matança indiscriminada dos bichinhos indefesos, que acabavam sendo levados para a incineração em uma universidade. A fumaça das chaminés correspondia a nuvens escuras de uma chacina silenciosa.

O escândalo extrapola a razão e causa os mais gélidos calafrios, numa desumanidade violenta de uma secretaria que tinha como função tutelar e zelar - justamente o contrário da crueldade das evidências.

As injeções da eutanásia e a cremação seriam adotadas como uma maneira de economizar custos, uma medida mais barata para desocupar os abrigos e evitar qualquer oneração do tratamento para recuperar os pets.

O mais assustador é a suspeita de que as presas sacrificadas já contavam com histórico de sofrimento. Deviam fazer parte dos dois mil cães resgatados ao longo da enchente de maio do ano passado.

Ao invés da adoção, seguiram para a morte.

O distanciamento do canil municipal favorecia a prática da eliminação anônima, pois o ponto se localizava longe das vitrines da solidariedade e do empenho das ONGs para o encaminhamento dos órfãos das águas a novas famílias.

Apartados de tudo e de todos, os cachorros experimentavam o purgatório do esquecimento, invisibilizados, subtraídos de seus direitos. Não eram de raça, não eram instagramáveis, combatiam doenças e sequelas.

Não obtiveram um final feliz de colo e acolhimento. Sobreviveram em telhados na maior catástrofe ambiental da história gaúcha, nadaram por horas a fio, suportaram a chuva e o frio, arcaram com a perda de seus lares, enfrentaram a depressão e a falta de contato. Para quê?

Em vão o esforço colossal de lutar arduamente pela própria existência. 

CARPINEJAR

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