quinta-feira, 25 de setembro de 2025



25 de Setembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Lula mede discurso para garantir reunião com Trump

Em sua primeira manifestação pública depois do aceno de Donald Trump, Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que pode haver reunião presencial. Na véspera, por cautela, sua equipe preferia telefone ou teleconferência. Antes de ser perguntado e confirmar essa chance, havia falado em "sentar à mesa". Em entrevista coletiva concedida na ONU, Lula mostrou preocupação em manter um discurso que garantisse o diálogo e fez todos os acenos possíveis a Trump. Evitou bravatas e manteve o tom respeitoso. Deu até dica sobre o motivo pelo qual Trump o chamou de "cara legal" (nice guy):

- Fiz questão de dizer a Trump que temos muito a conversar, há muitos interesses dos dois países em jogo. Não quero saber se um chefe de Estado gosta ou não de mim, se professa a mesma ideologia ou não. O que importa é que uma pessoa eleita merece meu respeito como chefe de Estado brasileiro.

No Brasil, economistas e consultores de comércio exterior já especulam pontos possíveis da conversa entre os dois presidentes.

Possíveis pontos de debate

Tarifas: segundo o USTR, o Brasil concede tarifas preferenciais mais baixas às exportações de outros parceiros. É possível fazer alguma oferta.

Etanol: a alíquota do etanol americano no Brasil está bem acima (18%) da cobrada nos EUA sobre o brasileiro, que ficou fora do tarifaço. Há espaço para negociar.

Propriedade intelectual: os americanos temem regras nacionais, que podem ser adequadas.

Desmatamento ilegal: a cobrança, em especial depois do discurso recheado de barbaridades climáticas de Trump na ONU, soa um tanto ridícula, mas interessa ao Brasil acabar com esse crime ambiental. Difícil será Trump se interessar mesmo pelo assunto.

Big techs: o tema ficou focado no Pix, mas ontem o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que regulação e taxação podem entrar na conversa. Vai ser preciso muito cuidado.

Terras raras: está fora do radar do USTR, mas é um tema importantíssimo para os EUA. O Brasil tem reservas, mas quase nada de produção. Pode valer parceria. _

Os indicadores financeiros miraram lados opostos ontem. O dólar teve forte alta de 0,9%, para R$ 5,327. A bolsa, porém, renovou seu recorde, para 146.491 pontos, resultado de oscilação positiva mal visível, de 0,05%.

Por que PIB do RS caiu mais do que em 2024

O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul teve queda de 2,7% no segundo trimestre, tanto em relação ao trimestre anterior quanto na comparação com o mesmo período de 2024. O resultado parece intrigante comparado à baixa de apenas 0,3% de abril a junho de 2024, quando o Estado sofreu a pior catástrofe climática de sua história.

Mais uma vez, a quebra da safra de soja aparece como principal motivo. No ano passado, uma boa colheita havia sido completada antes do dilúvio. Mas a explicação não estaria completa sem o que, no ano passado, ajudou a explicar o recuo mais suave do que o temido.

Na época, os incentivos dados logo depois do desastre ajudaram a movimentar o varejo, por exemplo. Como não se repetiu neste ano, contribuiu para queda mais forte.

O grande buraco, no entanto, foi mesmo na agropecuária, que afundou 21,4% ante o trimestre anterior e 2,7% na comparação com o mesmo período de 2024. O resultado final só não foi pior porque houve crescimento da indústria, de 0,8% em relação aos primeiros três meses do ano e de 4% frente ao trimestre de 2024 afetado pela enchente - por isso mesmo, uma base "deprimida", conforme o Departamento de Economia e Estatística do Estado (DEE). _

Decisão da China ajuda o Brasil

A China anunciou durante a Assembleia Geral da ONU uma decisão que pode ajudar o Brasil. A segunda maior economia do planeta enfim renunciou ao tratamento especial previsto para países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC). Os EUA contestam essa classificação desde a adesão da China à OMC, há 24 anos. Assim, a decisão chinesa é uma tentativa de resgatar a entidade do limbo e permitir a aguardada reforma da entidade. Só assim a queixa do Brasil na OMC contra o tarifaço tem chance de prosperar. _

Enfim

Depois de protestos nas ruas, a PEC da Blindagem nascida na Câmara foi sepultada ontem no Senado. O regimento da Casa prevê que, em caso de rejeição por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça, a proposta é arquivada. Agora, é preciso que o Legislativo retome seu papel: cuidar dos interesses dos eleitores. E até parece haver avanços, só que, embora o interesse público esteja contemplado desta vez, só andou por motivação política.

O que EUA exigem para emprestar US$ 20 bi a Milei

Só as palavras de Donald Trump, em reunião bilateral com Javier Milei na terça-feira haviam provocado alívio na nova crise do país vizinho. Ainda ajudaram os anúncios do Banco Mundial (US$ 4 bilhões) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com mais US$ 3,9 bilhões. Mas o que mais animou o mercado argentino ontem foi a confirmação do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, de negociações para um swap cambial (troca de moeda) de US$ 20 bilhões.

Mas, como os argentinos já previam, mesmo com toda a simpatia de Trump com Milei - sinal importante para avaliar corretamente o aceno do presidente americano a Lula - exige contrapartidas. A principal exigência, conforme a imprensa argentina, é o cancelamento de acordo semelhante feito com a China no governo anterior.

Outra condicionante, também previsível, é a vitória de Milei e seus aliados nas eleições parlamentares de outubro. A derrota do governo federal no pleito da província de Buenos Aires, no início do mês, foi o gatilho para a atual crise. E o apoio dos EUA é um importante trunfo para Milei reorganizar suas forças. É complexo, porque seu partido se isolou, mas não impossível.

- Logo após a eleição, começaremos a trabalhar com o governo argentino em relação aos pagamentos principais da dívida - explicitou Bessent.

O secretário do Tesouro ainda acenou com investimentos:

- Também fiz contato com diversas empresas americanas que pretendem fazer investimentos estrangeiros diretos substanciais na Argentina em diversos setores, caso haja um resultado eleitoral positivo. 

GPS DA ECONOMIA

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