quinta-feira, 18 de setembro de 2025


Batalhas desafiadoras contra a criminalidade

As estatísticas oficiais mostram, nos últimos anos, um recuo paulatino dos crimes que mais preocupavam a população brasileira, como homicídios e roubos. A tendência, no entanto, não significa que o combate à delinquência está sendo vencido no país. Pelo contrário. São batalhas cada vez mais desafiadoras devido à reconfiguração da forma de atuar no submundo. Uma dessas faces é o fortalecimento das facções, que espalham tentáculos por negócios legais e, quando entendem ser necessário, não hesitam em praticar ações violentas e ousadas. Outra é a migração para golpes do ambiente digital, que causam graves prejuízos financeiros aos cidadãos.

Um exemplo recente e chocante de operação que mostrou o preparo e o poderio de grupos criminosos foi a execução a tiros do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes, na noite de segunda, em Praia Grande (SP). Fontes teve atuação reconhecida no combate ao PCC. Uma das linhas de investigação indica que o assassinato seria uma vingança do grupo. Outra aponta para a possibilidade de ser uma retaliação de um outro grupo pela atuação de Fontes como secretário de Administração do município. Seja qual for a pista correta, o homicídio mostra a audácia de um grupo que não titubeia em executar uma figura que ocupou alto cargo na segurança pública de São Paulo.

Embora de outra natureza, também impressionam as informações sobre a terceira fase da Operação Medici Umbra, desencadeada ontem pela Polícia Civil gaúcha. A figura central do esquema era um homem de 26 anos morador de Pernambuco. As fraudes ocorriam a partir da invasão de sistemas governamentais, em que uma massa de dados era obtida e revendida para outros golpistas, que atuavam em busca de vítimas.

A descoberta é desconcertante. Foram apreendidos documentos que apontam para o armazenamento de dados sigilosos da Justiça e milhões de chaves Pix. Ao que parece, foram extraídas informações também do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), de arquivos de reconhecimento facial e de órgãos de trânsito de diversos Estados.

O caso é uma pequena amostra de um universo de hackers que agem da mesma forma. O resultado é que os cidadãos estão, a todo momento, sofrendo tentativas de estelionatos digitais. É um dos crimes que mais cresce no país. Uma pesquisa do Datafolha publicada no mês passado mostra que um em cada três brasileiros admite já ter sido vítima de golpes pela internet. Outra sondagem do instituto, no ano passado, concluiu que são 4,5 mil tentativas de artimanhas online por hora no Brasil. As facções também estão envolvidas.

Os dois episódios das últimas horas mostram que poder público, empresas e cidadãos têm de se preparar para esta nova realidade. As grandes organizações criminosas se espalham por várias regiões e ramos de atividade. Um combate à altura de suas estruturas exige trabalho de inteligência e maior integração e cooperação entre diferentes órgãos de segurança dos Estados e da União. A discussão sobre a PEC da Segurança, nesse sentido, deve avançar. É necessário ainda maior atenção à cibersegurança, para evitar o roubo de dados, e letramento digital da população. 

Nenhum comentário: