sexta-feira, 8 de setembro de 2023


08 DE SETEMBRO DE 2023
CELSO LOUREIRO CHAVES

A Revolução de 1923 em concerto

A Revolução de 1923 pode ter sido uma das últimas revoluções em terras gaúchas, mas fez muito para aprofundar uma característica bem nossa: o dualismo, os campos políticos opostos, as lutas fratricidas, seja nos campos, nas campanhas eleitorais ou na aparente inocência das refeições em família. Se o evento histórico ficou no passado, as reverberações se prolongam em coisas do dia a dia, ainda hoje.

A música de concerto rio-grandense nunca foi muito de celebrar, ou retratar, esses acontecimentos. Mesmo os mitos gauchescos e os contos de Simões Lopes Neto - melhor autor de narrativas do que de libretos de ópera - ganharam pouquíssimas versões. Ainda outro dia, o maestro Antonio Carlos Borges-Cunha lembrava uma peça sinfônica de Luiz Cosme, A Salamanca do Jarau.

Sim, a música é toda baseada em Simões Lopes Neto. É um dos únicos exemplos orquestrais, senão o único, dessa rara simbiose entre gauchismo e sinfonismo. É uma peça que tem sido tocada de tempos em tempos, mas menos do que deveria, dada a sua importância na música de concerto do Rio Grande do Sul. Não que se tocasse todos os anos, como para pagar promessa. Mas a música merece maior frequência e Luiz Cosme merece ainda mais.

Um dos colegas-compositores de Cosme foi Armando Albuquerque e é dele a única rememoração "de concerto" da Revolução de 1923. Albuquerque começou a compor em 1926, mas o grande ano da sua primeira produção caudalosa, no estilo "assim, trepidante", como ele dizia, foi 1928. Pois justamente numa peça para piano que se chama Seis Impressões de 1928, acredito reconhecer alguns ecos de 1923.

O título fala em 1928, é certo, mas a dedicatória da peça logo explica o ano: a música é para quem Albuquerque chama "os companheiros daquela época", entre eles os poetas Augusto Meyer e Teodemiro Tostes. Mas é só observar os títulos das peças e o teor da música e dar-se conta que a inspiração é mais, digamos, belicosa: Alvorada, As Tropas, Ao Herói (quem seria? onde estaria o compositor no espectro da dualidade?), Marchando de Noite no Sertão...

Relacionar a peça à Revolução de 1923 é quase inevitável, pelo menos para mim que já registrei as Seis Impressões num álbum lançado pela prefeitura de Porto Alegre, no tempo em que a prefeitura ainda era agente cultural. Nos possíveis tributos aos combates rio-grandenses, ficamos por aí. E, apesar dos títulos das impressões de Albuquerque, cada uma delas não dura mais do que um minuto, algumas bem menos. São passagens bem fugazes para lembrar eventos gaúchos longínquos, mas de longa memória.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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