05 DE AGOSTO DE 2023
BRUNA LOMBARDI
O ALERTA DOS OUTROS
Quantas vezes na vida você tentou dizer para alguém alguma coisa que parecia importante e aquilo passou batido? E quantas vezes alguém tentou te dizer alguma coisa fundamental e você nem escutou? Isso acontece com todos nós, mas por quê? Estamos desatentos, distraídos, rebeldes, tipo: conselho, tô fora? Ou simplesmente: não estamos prontos.
Se nosso sistema, ao invés de ser nervoso, fosse um sistema calmo, definiria melhor o que nos falta. A serenidade de que a gente precisa tanto. Uma certa paciência para lidar com todas as questões da vida, que, se a gente não cuida, vão se acumulando em volta de nós, dentro de nós, até ficar difícil resolver sem precisar escalar uma montanha.
Só que não adianta, se não estamos preparados não adianta. A gente só consegue encarar, escutar ou entender alguma coisa quando estamos prontos para isso. Quando existe dentro de nós um movimento, que mesmo sem saber ainda o que fazer, quer buscar uma solução.
Mas o problema é que só conseguimos ver algo quando podemos lidar com isso. E só lidamos com o que estamos estamos prontos para encarar. E vamos passar batido por tantas coisas que não temos capacidade de mexer, até que um dia, de repente, elas nos surpreendem.
Acontece no nosso cotidiano, nas pequenas coisas. Um vazamento na casa de que só nos damos conta quando a parede tá bem manchada. Um amigo que se afasta e passa um tempo até a gente tomar uma atitude. Um problema de saúde para o qual a gente não deu atenção. Um amor que se transforma e a gente nem percebe. A lista é infinita.
E de repente aquilo parece uma surpresa. Seria ótimo ter essa atenção plena e abrangente e ter um alarme que soasse para coisas em estado de cuidado e perigo. Seria necessário uma espécie de contabilidade constante que nos fizesse avaliar tudo o que nos cerca. Seria bom ter tempo disponível, condições e, acima de tudo, saber o que fazer.
Mas o ciclo pede espera, o conhecimento tem etapas, o despertar demora. Quanta coisa não escutamos provavelmente por que passar pelo erro é uma parte importante do trajeto.
Nenhum adolescente de nenhuma geração vai ouvir seus pais, porque precisa vivenciar sua própria experiência. Precisa sentir seu próprio sofrimento, conhecer seus próprios sentimentos. Precisa entender o amargo, o difícil, aquilo que dói. Nenhum de nós pode passar essa vivência para alguém. Ela é individual, e nenhum caminho de agruras pode ser poupado.
Quando estamos de fora, é mais fácil enxergar, e a nossa vontade é ajudar, falar, avisar. E vamos continuar fazendo isso mesmo sabendo que é inútil.
Minha prima não escutou quando a família toda disse que aquele cara não valia nada e seguiu seu rumo. Casou com ele, vendeu a casa e ele conseguiu torrar todo o patrimônio. Quando ela despertou e caiu na real, levou um susto.
Se não conseguimos escutar o alerta dos outros, vamos pelo menos prestar atenção ao nosso. Conscientizar que existe dentro de nós a voz da intuição que diz, avisa, toca um alarme.
E, em geral, nem ela a gente escuta porque não está preparado.
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