05 de novembro de 2014 |
N° 17974
FÁBIO PRIKLADNICKI
PAPÉIS PODRES
Assisti, com certo atraso, ao
longa Trabalho Interno (2010), de Charles Ferguson, vencedor do Oscar de melhor
documentário. O tema é a crise econômica de 2008 nos Estados Unidos, e depois
no mundo, mas é mais do que isto: trata-se de um trabalho que solapa a
esperança que se possa ter em um livre mercado à moda norte-americana.
Ferguson realiza um detalhado
histórico da desregulação pela qual a economia dos Estados Unidos tem passado
desde os anos 1980, demonstrando, com evidências, que favoreceu apenas a fatia
1% mais rica da população. A desigualdade se acentuou. Criou-se, desde então,
um lobby do setor financeiro que se instalou no poder e sobrevive a trocas de
governo.
Quase ninguém se salva. Credores
emprestaram dinheiro a rodo sem garantia de pagamento, gerando títulos. Quando
estes papéis começaram a apodrecer, grupos de investimento convenceram seus
clientes – pessoas como eu e você – a comprá-los. Alguns grupos quebraram e
quebraram muita gente, mas seus sócios saíram-se com bonificações milionárias.
A parte que mais me surpreendeu é
a denúncia da atuação de professores de negócios de prestigiadas universidades
que são muito bem remunerados como consultores do setor financeiro. Quase
nenhum deles teve a delicadeza de avisar, em seus artigos e livros, que a crise
estava chegando.
Um sujeito foi pago pelo governo
da Islândia para escrever um artigo elogiando a estabilidade da economia
daquele país (e não julgou pertinente revelar o financiamento a seus leitores).
Pouco depois, a Islândia quebrou.
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