quarta-feira, 8 de julho de 2009


VALDO CRUZ

They don't care about us

BRASÍLIA - Em 1996, Michael Jackson esteve pela última vez no Brasil. Subiu o morro e cantou, numa favela do Rio, a música acima. A letra fala de violência, frustração, sensação de invisibilidade por conta de direitos ignorados.

Na semana de sua despedida, o título da canção do astro pop se mostra, infelizmente, mais atual do que nunca por aqui. Basta abrir os jornais e ler as notícias.
Três grávidas não são atendidas num hospital carioca por falta de vagas. São ignoradas em seus direitos mais básicos.

Têm os braços rabiscados indicando onde deveriam buscar atendimento. Seus corpos viraram pontos de anotações. Uma delas perde a criança no sétimo mês de gravidez.

A quem responsabilizar? Ao médico, ao hospital, ao município, ao Estado, ao governo federal? Atribuo a todos parte da responsabilidade de um sistema falido, que faz ecoar na voz de muitos brasileiros a letra do cantor americano: "Diga-me o que aconteceu com meus direitos. Eu sou invisível?"

Enquanto isso, ando pelos corredores do Congresso Nacional. Pode soar forçado, mas não ouço uma voz sequer tocar na tragédia cotidiana nos hospitais públicos brasileiros. Ninguém trata do tema. Ninguém propõe algo.

Por ali, só se fala da crise do Senado. Da guerra instalada em torno da cadeira do presidente da Casa. Não que não seja importante fazer uma limpeza no Senado. É. Mesmo antes dessa crise, contudo, não se ouvia palavra propondo soluções concretas para tragédias como a das grávidas cariocas.

Não por outro motivo a saúde brasileira continua um caos. O eleitor brasileiro, porém, pode dormir tranquilo. Ano que vem tem eleição. E soluções milagrosas serão novamente propostas. Depois, tudo cairá no esquecimento ou nas disputas partidárias.

Como diz o título da canção de Michael Jackson, "eles não ligam pra gente". Só em eleição.

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