quinta-feira, 9 de julho de 2009


CLÓVIS ROSSI

Por que não falas?

ÁQUILA - Se o Brasil quer mesmo assumir um papel mais relevante na governança global, tem uma urgente lição de casa a fazer: reformular totalmente seu sistema de informações durante eventos internacionais de que participa, em especial quando está o presidente da República.

Explico: eu estou muitíssimo mais bem informado sobre o que fez o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Iraque, a milhas e milhas daqui, do que sobre as atividades de Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenhamos passado toda a tarde e uma parte da noite a poucos metros um do outro.

Por quê? Porque a Casa Branca, especialmente depois da posse de Barack Obama, me abastece com uma tonelada de informações por e-mail, que vão desde nomeações que a administração submete ao Congresso até os chamados "briefings" (jargão jornalístico para sessões informativas), nos quais um funcionário graduado dá todos os detalhes sobre, por exemplo, o que rola no G8 ou qualquer outro G.

Com a liberdade que lhe dá saber que seu nome não aparecerá. Que fique claro: não é uma invenção recente nem exclusividade norte-americana. Exemplo de ontem: os jornalistas brasileiros ficamos sabendo pela boca de Kazuo Kodama, diretor-geral de Imprensa e Relações Públicas do governo japonês, o que se discutiu no almoço de trabalho dos líderes do G8.

Dos líderes do G5, de que faz parte o Brasil, só o comunicado oficial e meia dúzia de palavras de cada um dos cinco, Lula inclusive, que pouco acrescentaram ao comunicado.

Cria-se então a seguinte insólita situação: os jornalistas brasileiros sabemos o que fez e disse o governo japonês, mas não sabemos (nem os jornalistas japoneses) o que disse e fez o governo brasileiro. Com perdão pelo óbvio: informação também é poder -e quem não se comunica se trumbica, como dizia Chacrinha.

crossi@uol.com.br

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