quinta-feira, 9 de julho de 2009



09 de julho de 2009
N° 16025 - LETICIA WIERZCHOWSKI


Wislawa Szymborska

A poesia trilha caminhos árduos para chegar aos leitores. Sem tolos juízos de valor, o fato é que compra-se mais prosa do que poesia. Fico aqui pensando com meus botões que tais percalços não poderiam puxar o pé de certos poetas. Por isso não compreendo que Wislawa Szymborska, polonesa ganhadora do Nobel de Literatura do ano de 1996, ainda não tenha nenhum livro da sua seara publicado aqui no Brasil. Já li alguma coisa de Wislawa Szymborska – não no original, pois não falo polonês.

Li Szymborska em edições lusitanas e espanholas. Recentemente, li um volume publicado pelo Fondo de Cultura Económica do México entitulado Poesia No Completa. Quatrocentas páginas de belos poemas, numa coletânea que abarca a obra de sete livros de Szymborska, mais uma dezena de poemas soltos, alguns anteriores a 1957, outros posteriores a 1993. Mas essas minúcias não importam.

O que importa é que o leitor brasileiro ainda não conhece a força das imagens de Szymborska, nem a beleza cristalina das suas palavras, nem os suspiros dos seus versos, ora cálidos e femininos, ora escorregadios e irônicos.

Sobre Wislawa, cabe dizer que nasceu em Kórnik em 2 de julho de 1923, mas vive desde os oito anos em Cracóvia. Experimentou a guerra, a ocupação nazista e os anos sob o regime comunista, trabalhou por quase 30 anos na redação do semanário A Vida Literária, ama e traduz a poesia medieval francesa, e vive num pequeno apartamento na sua amada Cracóvia, perseguindo cada instante poético com humor e delicadeza.

Tomando emprestada a bela tradução do meu amigo Tiago Halewicz, deixo aqui (desculpando-me por condensar seus versos para que caibam no espaço que a mim me cabe) um trecho de um dos meus poemas prediletos de Wislawa, Amor à Primeira Vista:

Ambos estão convencidos de que foi um sentimento súbito que os uniu. Linda é uma certeza assim, mas a incerteza é mais linda. Acham que por não terem se conhecido antes, nunca houve nada entre eles. E o que diriam as ruas, escadas, corredores, pelos quais há muito tempo poderiam se cruzar?

Gostaria de perguntar-lhes se não lembram – na porta giratória um dia cara à cara? Um “com licença” em meio à multidão? A voz “engano” no telefone? Mas conheço sua resposta. Não, não lembram. Ficariam muito espantados em saber que desde muito tempo o acaso brincava com eles.

Ainda não totalmente preparado a transformar-se para eles num destino, aproximava-os e os afastava, cortava-lhes o caminho e abafando a gargalhada saltava para o lado. Houve sinais, signos, mas algo ilegível. É possível que há três anos atrás ou na terça-feira passada uma certa folha tenha voado de um ombro para o outro? (…)”

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