quinta-feira, 11 de junho de 2009



SOBRE A CPI

Passei três dias refletindo. É algo bastante raro. Costumo ser rápido. É verdade que o meu tempo médio de reflexão já superou o de todos os participantes do BBB somados. Algo em torno de três minutos.

Cheguei a ficar vermelho de tanto pensar. Parecia até um elefante com prisão de ventre. Reli tudo o que a imprensa publicou sobre o assunto que me levou a tamanho empenho intelectual.

Pesei, ponderei e decidi: sou contra a CPI para investigar os escândalos envolvendo o governo Yeda. Os meus argumentos são poderosos e irrefutáveis. Essa CPI não pode sair. Mais ainda, não deve sair. É uma questão legal. A lei diz que para se instalar uma CPI é preciso um fato determinado. Há, neste momento, no Rio Grande do Sul, pelo menos uns dez fatos determinados. É ilegal.

Se a lei diz um, então é um. Ou vira uma esculhambação. Precisamos ser lógicos: mais de um não é um. Não há mais dúvida: o número excessivo de fatos determinados e de indícios contraria a legislação vigente. A CPI não conseguiria ter foco. Haveria dispersão. Isso dificultaria o trabalho dos jornalistas encarregados de cobrir o trabalho dos parlamentares. Excesso de notícias banaliza o noticiário.

Outro problema é o surgimento constante de novos fatos. Isso atrapalha a sistematização dos dados. Se fosse só essa história de fraude em licitações até se justificaria, mas tem o resto.

Por exemplo, a casa da governadora, a reforma da casa da governadora e outras coisinhas mais. É um buraco sem fundo. Não para de encher. É uma de negar e de renegar que não acaba mais. Dá até um certo cansaço.

Outro complicador é que a CPI está sendo proposta pela oposição. Como sabemos, toda oposição é suspeita. CPI só faz sentido quando proposta pela situação para investigar a situação. O resto é política partidária.

Por fim, essa conversa de CPI está provocando sérios problemas de identidade em alguns partidos e deputados. É o caso do PDT. Parte da bancada quer a CPI. Outra parte não quer. O cálculo eleitoral é complexo. O PDT precisa aprender com o PMDB a não ter crise de identidade e a se comportar como situação na oposição e como oposição na situação.

Sempre rende. Cargos. O Dem também entrou em parafuso. Certo é que só deve existir CPI quando está tudo claro. Se há confusão, dúvidas, suspeitas, acusações, indícios, denúncias em revistas de circulação nacional, conversas telefônicas comprometedoras, aquisições obscuras, então, francamente, não cabe CPI.

Outra coisa inaceitável é denúncia de vice-governador em exercício. Parece traição. Todo traidor nos causa repulsa. Por fim, essa ideia de ouvir a população soa totalmente inadequada. É notório que a população está perdida. O povo não sabe o que faz.

Ou não elegeria essa turma que fica calculando quanto perde ou ganha se assinar um pedido de investigação para esclarecer situações que parecem, aos olhos dos mortais, mais do que bizarras. O problema da investigação, como disse o deputado Eliseu Padilha, é que ela pode descobrir algo. Melhor não. Só cabe CPI quando tudo está a descoberto.

juremir@correiodopovo.com.br

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