quarta-feira, 10 de junho de 2009


CLÓVIS ROSSI

Os "chutes" e o voo cego

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que ficou "triste" com os dados da economia no primeiro trimestre (retrocesso de 0,8%, o segundo trimestre consecutivo de queda, o que caracteriza tecnicamente uma recessão).

Não fica, não, presidente. Esse número, na velocidade em que gira o mundo hoje, é do passado remoto.

O diabo é que tudo o que há sobre o futuro é chute, inclusive do seu ministro da Fazenda. Guido Mantega continua fazendo previsões, a mais recente delas de crescimento de 1% para o conjunto do ano, ainda que admita que não será fácil.

Ao contrário de Mantega, a OCDE informa, conforme título na Folha de ontem, que "o Brasil piora, enquanto cenário global evolui".

A OCDE vem a ser a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Internacional, clubão dos 30 países mais ricos do mundo, mas que não inclui o Brasil.

Como Mantega, tampouco tem um recorde invejável em matéria de previsões. Se Lula lesse jornais, além de azia sofreria de desorientação com tanto palpite contraditório.

Para ajudar o presidente e também o leitor, reproduzo duas frases, ambas saídas na Folha no fim do mês passado e que, para o meu gosto, deveriam estar doravante no cabeçalho do caderno Dinheiro.

Frase 1, de Charles Morris, 50 anos de experiência no mercado financeiro, autor de "O Crash de 2008": "Quando alguém diz que está vendo sinais de recuperação, ou faz qualquer tipo de previsão, na realidade não sabe de nada. Estamos todos em um voo cego".

Frase 2, de Daniel Kahneman, professor de Princeton, psicólogo, Nobel de Economia em 2002: "É aterrorizante a ideia de que não compreendemos o mundo em que vivemos. E não compreendemos bem o que aconteceu em 2008". Lula poderá continuar "triste", mas não será enganado.

crossi@uol.com.br

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