sábado, 6 de junho de 2009



06 de junho de 2009
N° 15992 - PAULO SANT’ANA


O lado do paciente

Esta semana, houve um momento em que, no programa Polêmica, na Rádio Gaúcha, o condutor Lauro Quadros apresentou assim um debatedor: “E agora fala o inteligente psiquiatra Jaime Vaz Brasil”. Em seguida, o Lauro Quadros corrigiu-se: “Se eu disse que o apresentado era psiquiatra, não era necessário dizer que era inteligente. Fui redundante”.

Essa é a impressão preconceituosa que temos de todos os psiquiatras: de que eles são todos inteligentes.

Devo acrescentar de passagem que nunca vi um psiquiatra burro. Mas nem todos que conheci eram muito inteligentes, embora muitos fossem brilhantes.

Mas para o consenso geral – que é o que interessa – tomamos todos os psiquiatras como inteligentes, haja vista o reconhecimento do Lauro Quadros.

Da minha parte, como paciente em potencial dos psiquiatras, não exijo que o meu terapeuta seja essencialmente inteligente.

O que exijo é que tenha a consciência nítida e inalterável de que o que interessa não é a realidade que me cerca, mas a leitura que eu faço dessa realidade.

Por exemplo, não pode um psiquiatra incorrer no erro crasso em que incorrem os não psiquiatras que me cercam no cotidiano e que me afirmam nas conversas de bar e de corredor que eu tenho tudo para ser feliz e não entendem por que eu não me julgo feliz.

O que eu idealizo no meu psiquiatra é que ele vá ao fundo da minha questão e procure a origem de eu estar procedendo a uma leitura errada da minha realidade.

A segunda e última exigência que eu teoricamente faria a um provável analista que me tratasse é a de que tenha a noção inarredável de que não tem poder para me fazer mudar no meu comportamento as coisas imodificáveis.

Por exemplo, ao meu analista não compete insistir em que eu pare de fumar. Na segunda vez que me aconselhar isso e sentir que não terá sucesso em sua intenção, terá de desistir terminantemente de me pedir para parar de fumar.

A não ser que eu tenha ido ao psiquiatra para tentar que ele me tratasse para deixar de fumar. Aí, é outra conversa.

Mas se não foi para isso que recorri aos providenciais e indispensáveis serviços dele, desista de me tornar abstêmio da nicotina e concentre-se mais nos seus esforços de desentortar outros impulsos meus autonocivos, capazes de serem mudados.

E principalmente busque saber o porquê dos meus procederes erráticos e depois engendrar mecanismos que me conscientizem disso e me modifiquem através de comportamentos autodissuasórios.

E não sei se estou certo, mas exijo também que o meu terapeuta revele para mim o diagnóstico.

Até pode ser que nenhum terapeuta esconda o diagnóstico do seu paciente, mas é que eu não posso ficar desconfiado por nenhuma forma de que isso está acontecendo. Se desconfiar, desmorona tudo.

Finalmente, sobre a diferença básica entre psicólogos e psiquiatras, a de que os segundos podem receitar remédios e os primeiros não, quero dizer a esse respeito que nenhuma exigência tenho como paciente a respeito. Pelo simples fato de que não entendo nada de farmacologia.

O que eu entendo é de conversa, que isso afinal é a síntese da análise. E porque entendo de conversa é que me aventuro ousadamente a dar os palpites que exercitei acima.

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