quinta-feira, 4 de junho de 2009



04 de junho de 2009
N° 15990 - LUIS FERNANDO VERISSIMO


Ostentação nuclear

A Any Bourier, jornalista brasileira que mora há anos em Paris e viajou muito pelo Extremo Oriente, tem um livro pronto sobre a Coreia do Norte, o país mais excêntrico que já visitou.

Agora que a Coreia do Norte está no noticiário com sua ostentação nuclear e seus curiosos hábitos políticos, seria o caso de publicarem o livro para pelo menos nos ajudar a entender que país é esse e o que ele pode aprontar.

Li que a sucessão do atual líder Kim Jong-il, que está doente, já foi decidida: o sucessor será seu filho menor Kim Jong-un, cuja principal credencial para o cargo é sua semelhança física com o pai. O filho do meio, Kim Jong-chol, nem teria sido cogitado porque é muito feminino.

E o mais velho, Kim Jong-nam, a escolha natural para continuar a dinastia que governa o país há anos, desgostou o pai quando arranjou um passaporte forjado para entrar com um nome falso no Japão, pois queria conhecer a Disneylândia local.

Aparentemente, o próprio pai decidiu que dar mísseis nucleares para o Kim Jong-nam brincar seria um pouco demais.

A Coreia do Norte é o primeiro novo membro do clube nuclear em muitos anos. Mesmo com toda a sua estranheza e imprevisibilidade, é improvável que use seus mísseis em ataques à Coreia do Sul ou ao Japão, os inimigos mais à mão, a não ser que os Kim Jongs queiram se suicidar.

Ameaças muito maiores ao sossego do mundo são os arsenais nucleares da Índia e do Paquistão, que vivem em estado de guerra. E para bombas nucleares do Paquistão caírem eventualmente em mãos do Talibã e da Al-Qaeda só falta a eventualidade.

A impressão que se tem é que as armas nucleares da Coreia do Norte fazem parte mais de uma megalomania teatral do que de qualquer estratagema mais doido. Como o carro de luxo usado só para dar a volta na quadra e provocar inveja nos vizinhos.

Empatia

Sentimos tragédias como a do avião da Air France com uma empatia mais dolorosa porque podemos imaginá-las, porque já as imaginamos muitas vezes. Nada na nossa experiência nos permite saber como seria morrer num tsunami, por exemplo, ou num ato de guerra. Claro que a morte de qualquer ser humano, em qualquer circunstância, nos toca, mas é mais terrível a morte que nos faz pensar: podia ser eu.

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