Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
LIÇÕES DO OSCAR
Faço turismo de hidroelétrica em pleno Carnaval. Observo antropologicamente as minissaias das chinesinhas paraguaias em Ciudad del Este. Leio a revista Veja para chafurdar na lama. Sou um desbravador.
Por que não ir ao cinema ver os ganhadores do Oscar em salas de shopping center fedendo a pipoca e tomadas por ruminantes com roupas de grife? Fui. Quando cheguei a Porto Alegre, há quase três décadas, assisti a 'Kramer vs. Kramer', filme ganhador de cinco estatuetas da Academia de Hollywood.
Apesar de muito jovem, tive uma iluminação: não se ganha Oscar em balaios com filme bom. Era uma ideia simples, mas que se mostrou vencedora ao longo dos anos. Filme que ganha muitos Oscars não é confiável. Garanto. Melhor ver filme iraniano, uruguaio, costarriquenho e até brasileiro. O problema é que eu sempre me contradigo.
Fui ver 'O Estranho Caso de Benjamin Button'. Vi de cara que, embora oco, não era suficientemente ruim para arrebatar muitos troféus. Voltei ao cinema para ver 'O Leitor'. Percebi que, mesmo não sendo uma obra-prima, era bom demais para fascinar as massas e os eleitores. Um prêmio, porém, estava garantido, o de melhor atriz para Kate Winslet. Afinal, como ela mesma disse, com filme sobre o holocausto o Oscar é certo.
Finalmente, impulsionado por minha ética jornalística mais profunda, saí de casa para ver 'Quem Quer Ser um Milionário?'. Depois de 15 minutos, graças à minha longa experiência acumulada desde 'Kramer vs. Kramer', eu já podia afirmar sem hesitação: que filme vagabundo! Um novelão global com ênfase mexicana e matéria-prima indiana.
Um daqueles dramalhões piegas com direito a beijo romântico no final e a uma infinidade de peripécias do gênero dois irmãos órfãos disputando ocasionalmente a mocinha, bandidos grotescos, quedas de trem, herói e heroína perdendo-se, sofrendo, apanhando e achando-se na redenção final.
Como se diz, uma história de superação. O tipo de babaquice que o americano médio adora e Hollywood consagra. Os brasileiros sempre quiseram fazer igual para ganhar o Oscar. Tentaram com 'Central do Brasil', 'Cidade de Deus' e 'Tropa de elite'. Não tiveram coragem de ir até o fim.
Pretenderam fazer novela global e arte ao mesmo tempo. Ficaram no meio do caminho. Não foram suficientemente ruins para arrancar lágrimas americanas e desencadear um consumo mundial de pipoca. Também não foram bons o suficiente para marcar época com uma estética superior.
'Quem Quer Ser um Milionário?' faz compreender a relação entre Hollywood e Bollywood. O cinema indiano para ganhar Oscar tem tudo para emplacar em Ciudad del Este. Hollywood premiou a sua capacidade de disseminar o pior pelo mundo. Não há mais diferença entre filme americano e filme estrangeiro feito para o Oscar.
A lógica é a mesma: o bem contra o mal, uma corrida de obstáculos, o espetáculo no centro da cena e, genial sacada para fechar, a vitória do amor. O Brasil não precisa morrer de inveja.
Temos Glória Perez, autora de 'Caminho das Índias', certamente a novela mais idiota da história da televisão brasileira. Eu vejo. Há uma grande vantagem. Na minha casa, a pipoca é proibida.
Estou em campanha nacional contra a pipoca em lugares públicos. Depois do cigarro, a pipoca é o novo alvo. Não quero passar a vida sendo consumidor passivo de cheiro de pipoca. Aceito ver filme de Hollywood e de Bollywood. Recuso-me a ser intoxicado pelo mal do século, a pipoca.
juremir@correiodopovo.com.br
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