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sábado, 14 de fevereiro de 2009
15 de fevereiro de 2009
N° 15880 - PAULO SANT’ANA
A cirurgia plástica
Lembro-me bem de quando, há mais de 30 anos, levado pela mão generosa do dr. Sílvio Zanini, fui parar na famosa clínica do dr. Ivo Pitanguy, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Um ano antes, o dr. Pitanguy tinha examinado detidamente o meu rosto e decidira não me operar, no dizer dele para “não agredir a recuperação de uma paralisia facial que estava em curso”. Mandou que eu voltasse um ano depois.
Quando meu nervo facial foi seccionado inteiramente numa cirurgia no ouvido médio, fiquei com a face desfigurada, um verdadeiro Frankenstein.
Cheguei a pensar que nunca mais trabalharia em televisão e até em rádio, o sério acidente cirúrgico acabou por adulterar minhas feições, suprimiu definitivamente a metade esquerda da expressão da minha face, além de entortar o meu sorriso e avariar profundamente a minha dicção.
Apesar do duro golpe, sobrevivi. Quando voltei à televisão, quatro meses depois, recordo-me que me receberam com flores no estúdio, tive o carinho dos meus colegas e a compreensão do público, estima e complacência que até hoje perduram.
Mas voltando ao dr. Pitanguy, que é o assunto que me empolga. Quando finalmente ele decidiu por realizar um lifting no meu rosto, recordo-me que ao dirigir-me na maca para a sala de cirurgia, pedi a ele que aproveitasse a ocasião para tirar as três rugas da minha testa.
Ele, de avental verde, me respondeu: “Ah, isto é muito difícil”.
Em dois minutos, eu estava sedado, inteiramente submetido à extraordinária habilidade do maior cirurgião plástico da história da medicina.
Quando horas mais tarde me acordei da anestesia, o Éldio Macedo e o saudoso político Mário Ramos estavam à beira do leito para me emprestar solidariedade, tinha se operado no meu rosto um milagre: olhando para as fotos de antes e depois da cirurgia, senti que minha vida profissional estava salva e meu aspecto tinha se tornado socialmente aceitável.
E, por generosidade do grande cirurgião, ele de inhapa fez desaparecer as três rugas da minha testa. Disse-me ele que nunca um paciente seu havia sangrado tanto na costura do couro cabeludo: perdi três litros de sangue.
No dia seguinte à cirurgia, o dr. Pitanguy levou até meu leito um repórter do New York Times, que me entrevistou sobre os clientes do notável cirurgião que foram por ele reabilitados para exercer seus papéis no cinema e na televisão.
Nunca vou me esquecer da gentileza, da humanidade, da serena e cordial sabedoria do dr. Ivo Pitanguy.
Ele foi decisivo em meu rosto para 75% da correção do acidente, que até hoje ostento.
Escrevo isso porque certamente se deve a Pitanguy o extraordinário avanço da cirurgia plástica no Brasil. O cirurgião dos reis e dos atores de cinema célebres que passaram por suas mãos é o maior responsável por exercermos no mundo uma notável liderança em cirurgia plástica, atraindo para o Brasil milhares de estrangeiros que vêm anualmente submeter-se a operações reparadoras ou estéticas em nosso país, provindos muitos deles dos EUA e da Europa.
De setembro de 2007 a agosto de 2008, portanto um ano, foi realizado o número de 629 mil cirurgias plásticas no Brasil. Um número fenomenal, não igualado por nenhum outro país.
Pela primeira vez, no ano passado, os implantes de silicone (96 mil no período citado) ultrapassaram as lipoaspirações (91 mil).
As mulheres foram as que mais procuraram os procedimentos estéticos: 402 mil, contra 55 mil homens.
Mas o número que mais impressiona é o de que, por dia, são realizadas 1,2 mil cirurgias plásticas no Brasil. Por dia!
E se popularizou tanto entre nós a modalidade, que esses dias restamos aturdidos quando o governo federal autorizou o funcionamento de consórcios para cirurgias plásticas.
A cirurgia plástica está transformando para muito melhor, numa ajuda milagrosa à natureza e à criação, ou em consertos prodigiosos aos acidentes e sinistros, os rostos e os corpos dos brasileiros.
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