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sábado, 21 de fevereiro de 2009
22 de fevereiro de 2009
N° 15887 - ARTIGO | Paul Krugman
QUEM VAI ACABAR COM A DOR?
No começo da semana passada, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) divulgou a ata da mais recente reunião do Comitê de Mercado Aberto, o grupo que define o nível da taxa básica de juro. A maioria das notícias deu importância à redução das projeções econômicas sobre o futuro próximo ou à adoção da meta de inflação de 2% ao ano no longo prazo.
Mas o que me chamou atenção foi uma arrepiante passagem (sim, as coisas estão tão ruins que reflexões sumárias de banqueiros centrais podem deixá-lo acordado a noite inteira):
“Todos os integrantes preveem que o desemprego irá ficar bastante acima da taxa sustentável no longo prazo até o fim de 2011, mesmo sem futuros choques econômicos, alguns indicaram que mais cinco ou seis anos serão necessários para a economia convergir a um caminho caracterizado por taxas sustentáveis de crescimento da produção e de desemprego e uma taxa apropriada de inflação”.
Então, as pessoas no Fed estão preocupadas pela mesma questão em que tenho insistido ultimamente: o que é capaz de acabar com essa depressão? Sem dúvida vai passar, mas como e quando?
Para avaliar o problema, você precisa saber que isso não é a recessão da época do seu pai. É a do seu avô, ou até a do seu tataratataravô. A recessão do seu pai foi algo como a forte queda em 1981-82.
Aquela recessão foi, de fato, uma deliberada criação do Federal Reserve, que elevou os juros em até 17% para segurar uma inflação descontrolada. Uma vez que o Fed decidiu que havíamos sofrido o suficiente, mostrou piedade, e a economia se recuperou rapidamente.
A recessão de seu avô, porém, foi algo como a Grande Depressão, que aconteceu a despeito dos esforços do Fed e não por causa dele. Quando uma bolha do mercado de ações e uma explosão do crédito entraram em colapso, derrubando boa parte do sistema bancário consigo, o Fed tentou reanimar a economia com juros baixos. Porém, até taxas pouco acima de zero não eram suficientemente baixas para dar fim a um longo período de elevado desemprego.
Agora estamos no meio de uma crise que lembra de forma preocupante e assustadora o começo da Depressão. Taxas de juro próximo a zero, e a economia ainda despenca. Como e quando tudo vai acabar?
O governo Obama está agindo para ajudar a economia, mas tenta amenizar o tombo e não detê-lo. O pacote de estímulo (os US$ 787 bilhões aprovados no Congresso), na estimativa do próprio governo, vai limitar o avanço do desemprego, mas não restaurará o pleno emprego.
O pacote de habitação anunciado na semana passada parece bom se visto que vai ajudar muitos donos de residências, mas não resultar num novo boom imobiliário. O que vai, então, realmente acabar com a retração?
Bem, a Grande Depressão chegou ao fim, mas graças a uma enorme guerra, algo que não deveríamos imitar. O tombo que se seguiu à economia em ritmo de bolha no Japão também acabou um dia. Contudo, isso aconteceu apenas depois de uma década perdida.
E quando o Japão finalmente começou a ter algum crescimento sólido, isso foi devido ao boom das exportações – o que, por sua vez, foi possível em razão de uma vigorosa expansão no resto do mundo. Não é uma experiência que alguém possa repetir quando todo o mundo está em queda.
A retração vai se estender para sempre? Não. Aliás, as sementes de uma eventual recuperação já estão sendo plantadas. A construção de casas, por exemplo, despencou ao nível mais baixo em 50 anos.
É uma notícia ruim para o futuro próximo. Significa que o gasto em construção civil vai cair ainda mais. Mas também significa que a fornecimento de imóveis está ficando atrás do crescimento da população, o que, eventualmente, irá causar uma recuperação da habitação.
Ou o tombo nas vendas de carros. De novo, é uma notícia ruim no futuro próximo. No ritmo atual de vendas, segundo o blog de finanças Calculated Risk, levaria cerca de 27 anos para repor o estoque existente de veículos.
A maioria dos automóveis será jogada fora muito antes desse tempo, seja por desgaste de uso ou por obsolescência. Então, estamos criando uma demanda reprimida de carros.
A mesma história vale para bens duráveis e ativos na economia. Em um dado tempo, a atual recessão vai acabar, da maneira que aconteceu no século 19. Como disse, talvez essa seja a recessão de seu tataratataravô. Mas a recuperação vai demorar.
A comparação mais próxima no século 19 com o atual tombo é a recessão que se seguiu ao Pânico de 1873. Aquela recessão acabou eventualmente sem qualquer intervenção do governo, mas durou mais de cinco anos, e outra prolongada recessão se seguiu apenas três anos depois. Você pode ver, portanto, porque alguns integrantes do Fed estão tão pessimistas.
Vamos ser claros. As políticas do governo Obama vão ajudar nesse período difícil, especialmente se o governo morder a isca e incorporar os bancos enfraquecidos. Mas ainda fico matutando: quem vai acabar com a dor?
New York Times News Service | Paul Krugman é economista, Prêmio Nobel de Economia 2008, professor e colunista do New York
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