Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
08 de fevereiro de 2009
N° 15873 - VERISSIMO
A ocasião
A ocasião não faz apenas o ladrão. Faz o herói ou o covarde, o sábio ou o burro, o predador sexual ou o modelo de autocontrole. Exemplo: você está num elevador com a Luana Piovani, só vocês dois, e o elevador enguiça.
O socorro demorará a chegar. Vocês podem muito bem passar a noite no elevador parado. Pronto, a ocasião se apresentou. Resta saber o que você fará com ela ou o que ela fará de você (a ocasião, não a Luana Piovani).
A verdade é que não nos conhecemos. Não sabemos como nos comportaríamos se uma ocasião se apresentasse, para roubar ou pular na Luana Piovani. Baseados em insuficiência de provas sobre nossa própria calhordice (somos os nossos maus pensamentos ou somos aquela pequena glândula no centro do cérebro que a Ciência ainda não sabe se contem a Moral ou apenas o medo de ser descoberto, e que nos detém), sempre nos justificamos.
No foro íntimo, somos sempre absolvidos, ou o processo se perde misteriosamente. O homem é o lobby do homem.
Pois se Deus nos queria honestos, por que nos botou nesta situação, nesse governo, com esses ouvidos para ouvir a informação privilegiada, com essa mente para calcular quanto ela pode valer em dólares, com esses dedos para digitar um telefone e perguntar quanto levamos nisso? Ou nesse elevador com a Luana Piovani?
Sempre temos uma explicação para nós mesmos, diante da posteridade ou diante do delegado. Ser humano é ter um álibi. Ser brasileiro é ter um álibi irrefutável.
Existe pecado, sim, desse lado do Equador. O que não existe é o remorso.
Dizem que um homem só se conhece, realmente, em três situações: diante do cano de uma arma, diante de um vitral da catedral de Chartres ou diante de um milhão de dólares. Já estive em duas dessas situações e me comportei com razoável dignidade.
Diante de uma arma, num assalto, não me borrei, e diante de um vitral de Chartres não fui trespassado por nenhuma epifania mística, que eu temo mais do que a uma arma. Talvez diante de um milhão de dólares me aconteçam as duas coisas. Só vou saber na ocasião.
Existe uma moral absoluta, ou tudo é uma questão de ocasião – e de geografia? O homem é uma entidade moralmente autônoma ou seu senso moral é como um giroscópio que não funciona em certos climas? No caso do Brasil, talvez tudo tenha a ver com orientação celeste. Aqui nossa conduta seria regida por outro céu, outras estrelas.
Arranhe um corrupto brasileiro e você encontrará, por baixo do bronzeado, um navegador perplexo. Nossos protótipos culturais não seriam os portugueses que chegaram mas os que não chegaram, os que se perderam na travessia.
Senhor, um astrolábio moral! Já que não nos fizeste escandinavos.
Santo Agostinho disse: “Deus, me faça virtuoso – mas não agora”.
Um adágio brasileiro que precedeu o Brasil. Deus, nos faça virtuosos – depois que o nosso grupo também passar pelo governo, depois de juntarmos um patrimoniozinho, depois do Carnaval. Deus, nos faça castos – amanhã de manhã.
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