terça-feira, 17 de fevereiro de 2009



17 de fevereiro de 2009
N° 15882 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Uma quase recomendação

Sento para escrever esta nota e, como de hábito, repasso alguns temas apontados ao longo dos dias com vistas justamente a escrever esta nota. Em geral são leituras, mas também audições, algum teatro, algum cinema, mais raramente uma intuição sobre tema de interesse amplo no mundo cultural, tudo isso ou algo disso.

Mantenho o hábito do caderno de notas, desde os tempos da faculdade, quase metodicamente – um amigo e colega, Paulo Seben, que também mantém desde aquele tempo o hábito do caderno de capa dura para anotações (no caso dele, para os poemas), acha que nós contraímos este vírus mercê da minha curta experiência na Geologia, de que cursei dois anos; lá se incentivava o uso de caderneta de capa dura, para anotações ditas “de campo”. Pode ser.

Sento, então, para escrever esta nota e logo me recordo de um livro, lido faz pouco. Tomo-o na mão. Quando o lia, fiz algumas anotações, nele mesmo e no meu caderno, coisa pouca, mais para ir marcando o ritmo da leitura. (Nos tempos mais recentes, uns dez anos, aprendi a anotar uma série de observações de leitura – sobre o estilo do autor, o movimento do enredo caso seja um romance, a posição do narrador, as ideias que me ocorrem por associação, memórias pessoais conexas – nas páginas iniciais dos volumes.

Aprendi em livros velhos, comprados em sebo, que de vez em quando aparecem com notas assim, mas em geral nas páginas finais. Esta diferença entre iniciais e finais é um pouco a passagem do tempo, a perda do pudor da propriedade do livro, talvez.)

Sento, como dizia, para escrever esta nota, e mais uma vez deparo com o tal livro, lido uns dois meses atrás, de curiosidade mesmo. Vejo que nos capítulos iniciais – um livro misto de memórias, depoimento pessoal e ensaio histórico, praia das mais atraentes para este leitor aqui –, especialmente em dois deles, eu rabisquei muito, não por gosto, mas por desgosto: o autor se equivoca no uso da pessoalidade; maneja vocabulário muitas vezes inadequado, melhor dizendo impreciso; abre parágrafos à toa; deixa lacunas aborrecidas no fluxo da frase; alguma vez parece que o texto é truncado mesmo. Tudo isso seria suficiente para não comentá-lo aqui.

Sento, de todo modo, para escrever esta nota, e acho que vale a pena dizer isso tudo e mais o nome do livro, que no fim das contas é bom de ler. Malgrado esses defeitos, que não aparecem todo o tempo, e malgrado umas intervenções narrativas de ordem pessoal que não ajudam nada ao livro, nem mesmo à constituição de sua ótima carga dramática, de depoimento sobre um império de comunicações brasileiro visto por dentro, em tom melancólico, raras vezes crítico, no conjunto comovente, malgrado ainda o fato de a leitura, feita há pouco, ter-se esfumado da minha memória – aí está Os Irmãos Karamabloch: Ascensão e queda de um império familiar, de Arnaldo Bloch.

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