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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
ENIGMA DAS TRAÇAS
Eu sempre quis entender as traças. Assim como sempre sonhei em compreender os extremistas de direita e de esquerda. Volta e meia, encarno um deles. Mergulho na caricatura. As traças agem aleatoriamente. Os extremistas também.
Tomo um exemplo. Durante a limpeza completa da minha biblioteca, duro trabalho de férias, descobri algo catastrófico: um livro devorado pelas traças. Fiquei desesperado. Depois de praguejar, atentei para o título do livro: 'A Etiqueta no Antigo Regime: do Sangue à Doce Vida', de Renato Janine Ribeiro, na coleção para iniciantes Tudo É História. Aí é que embatuquei.
Renato Janine Ribeiro é um grande intelectual, professor da USP. Meu amigo. Foi diretor de avaliação na Capes dos programas de pós-graduação. Arranjou muitos admiradores e também muitos adversários. O único livro atacado pelas traças na minha biblioteca foi o dele. Seria um complô das traças contra o meu amigo e contra mim por eu ter apoiado o seu trabalho?
As traças são emocionais como os extremistas de esquerda e de direita. Refleti. Talvez o objeto do ataque fosse o 'antigo regime'. Ainda que tardiamente, seria justo. Poucas coisas foram tão repugnantes como o 'antigo regime', felizmente posto abaixo pela Revolução Francesa de 1789. Seriam as 'minhas traças' herdeiras de Danton ou Robespierre?
No 'antigo regime', absolutista, os reis eram representantes de Deus na terra. Reinavam por direito divino. Seriam as traças da minha biblioteca antimonarquistas ou até mesmo pagãs ou ateias? Pensei mais um pouco e descobri outra hipótese: a etiqueta. Renato Janine Ribeiro mostra no seu pequeno livro, que reli, apesar dos buracos abertos em cada página, o quanto a etiqueta foi uma questão de estado no 'antigo regime'.
O tratamento a ser recebido ou dispensado dependia do nascimento, que não era considerado uma loteria, mas a 'escolha de Deus'. A podridão chegava às alcovas dos palácios. A etiqueta, no entanto, devia ser rigorosamente obedecida. Estariam as 'minhas' traças em rebelião contra os privilégios da etiqueta do 'antigo regime' que insistem em se reproduzir no mundo contemporâneo?
Nesta minha viagem à Europa, ainda chocado com o ataque das traças ao livro de Renato Janine, questionei um amigo, especialista em absolutismo, sobre a etiqueta no 'antigo regime', em busca de alguma relação com as traças.
Ele me surpreendeu com uma divagação sobre traças, extremistas de direita e extremistas de esquerda. Tudo o que eu havia pensado, antes de embarcar, ao descobrir o atentado praticado sob o meu teto. Jacques Dupont me deu a chave do seu pensamento: no 'antigo regime', os homens eram como traças. Obcecados por etiqueta.
Devoravam grosseiramente tudo o que dissesse respeito a normas de boas maneiras. Mas permaneciam incapazes de vencer os seus preconceitos e de ampliar os seus horizontes. Faltava-lhes generosidade e espírito.
E os extremistas de esquerda e de direita nisso tudo?, perguntei-lhe. Riu. Fiquei com cara de idiota. Por fim, ele esclareceu. Os extremistas são traças que não podem se livrar do programa que lhes foi atribuído pela natureza.
Cabe-lhes devorar o universo. As suas ações, porém, permanecem um enigma para os demais na medida em que jamais produzem as transformações desejadas. O extremista, de esquerda ou direita, é uma traça sem etiqueta que não compreende a própria caricatura.
juremir@correiodopovo.com.br
Aproveite o dia - Uma ótima terça-feira
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