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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
26 de fevereiro de 2009
N° 15891 - RICARDO SILVESTRIN
Guerreiros e guerreiras
Ainda bem que existem os franceses. Essa é a frase que termina o filme Dirigindo no Escuro, do Woody Allen. Depois de conduzir tudo cego, o diretor, que ocultava sua cegueira temporária para não perder o contrato, lança o filme cheio de imperfeições. Nos Estados Unidos, foi um fracasso.
Na França, acharam curioso e interessante. Mostra, irônica e sinceramente, como sempre tem gente no mundo que aprecia o que de melhor a arte tem pra oferecer: o desvio, o estranho.
Foram os franceses que viram a qualidade artística de Hitchcock. O cineasta disse que pensava apenas estar fazendo um produto para a indústria. Mas os franceses mostraram que criava arte. Também os franceses resgataram os teóricos da literatura que tinham sido exilados da Rússia no início do século XX. O jazz americano foi revalorizado na França.
Digo tudo isso para louvar a existência do Canal Brasil. É, paradoxalmente, o nosso canal francês. Na sua programação, o debate livre sobre o país, a ousadia de verdade e não de butique ou de ibope, a inteligência contrastando com a boçalidade dominante.
É um importante lugar de resistência, para usar uma palavra do tempo do engajamento. O deboche, o escracho, não essa apelação de alguns programas de sucesso, que, no fundo, é conservadora. O humor anárquico que tanto serviço prestou à renovação das ideias no nosso país dá o tom de algumas pérolas da programação.
A mais recente é o Larica Total. Com o ator Paulo Tiefenthaler, de calção, camiseta e chinelo, numa cozinha de apartamento pequeno, o programa dá receitas de comida para a vida real.
Entenda-se por vida real não a da dona de casa que tem tudo arrumado. Mas a dos solteiros que vivem desamparados num JK. Os guerreiros e guerreiras, como ele chama. Franceses de todas as nações, ex-Pasquins, pereios, tortos do mundo: uni-vos!
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