sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009



13 de fevereiro de 2009
N° 15878 - PAULO SANT’ANA


A privacidade da imagem


No presídio denominado Instituto Penal de Mariante, em Venâncio Aires, foram apreendidos anteontem, em uma operação pente-fino desenvolvida por 70 agentes penitenciários e 136 PMs, 10 revólveres calibre 38, três pistolas de uso exclusivo das Forças Armadas, 24 facas de cozinha, sete tijolos de maconha, 200 buchinhas de maconha, 35 pedras de crack e duas balanças de pesar cocaína.

Foram ainda apreendidos 82 celulares e dezenas de carregadores.

Como estão presos no local cerca de 190 presos, temos então um celular para cada dois presos, proporção muito maior que em inúmeras comunidades.

Um dia antes, no Presídio de Taquara, foram feitas apreensões da mesma ordem.

Sugere-se, para modernização dos presídios, em face da grande quantidade de celulares apreendidos em seus interiores, que se instalem em cada casa prisional lojas de atendimento da Vivo e da Claro, em face das reclamações que certamente advêm sobre os serviços dessas prestadoras.

Pelo visto, com um celular para cada dois presos, há uma demanda contida de aparelhos nos presídios. A Vivo e a Claro precisam satisfazer essa demanda, elevando a proporção para um aparelho para cada preso.

Se fosse dada liberdade de expressão aos detentos, certamente as reclamações deles contra as companhias telefônicas iriam engrossar ainda mais os caudalosos protestos que se derrubam sobre as redações de jornais contra as prestadoras, por parte do público em geral.

Aproveitando a extraordinária quantidade de drogas apreendidas nos presídios, revelando forte atividade econômica entre os detentos, seria o caso também de instalarem-se no interior das casas prisionais agências bancárias com guichês e caixas eletrônicos em atendimento de 24 horas.

Supõe-se que não haja lugar mais seguro para a instalação de agências bancárias do que dentro dos presídios. As lojas bancárias estariam totalmente livres dos assaltos que infernizam as agências normais aqui da rua.

A gente se preocupa aqui fora com o atendimento dos diversos serviços, sem atentarmos que nossos presidiários, destituídos de todas as liberdades, inclusive a de expressão, não possuem voz para reclamar contra o mau atendimento de que são vítimas.

E também, pela grande quantidade de armas brancas e de fogo que é encontrada nos presídios, há que se instalar neles armeiros e afiadores de facas.

Porque sempre é preciso lembrar que a privação da liberdade não implica perda dos direitos civis. E o Código de Defesa do Consumidor certamente contempla os presidiários.

Quem paga tem direito ao eficiente atendimento.

Soube incrivelmente que, ontem, 10 sindicatos de servidores públicos estaduais, entre eles o Cpers, lançaram uma campanha contra a governadora Yeda Crusius, divulgando outdoors em todo o Estado com a fotografia da governadora, com farta distribuição de máscaras com a imagem da ocupante do Piratini.

Simultaneamente, o governo do Estado publicou nota em que promete processar os manifestantes.

Ao deparar ontem com as imagens reproduzidas nos outdoors, notei claramente, o que deve ser a impressão geral, que a imagem da governadora foi totalmente modificada para pior.

O rosto da governadora nos outdoors está visivelmente esmaecido, empalidecido, envelhecido, não correspondendo ao seu aspecto real e atual.

Desde já, a Justiça deverá assegurar à governadora o direito à privacidade de sua imagem, que no caso consistirá da substituição de sua imagem nas fotos.

Os sindicatos foram solertes e perversos ao escolher e editar as fotos da governadora, sua imagem está visivelmente alterada para pior.

O mínimo direito que tem qualquer pessoa, quanto mais uma pessoa pública, é o de escolher as fotos em que aparecerá publicizada.

Ainda mais quando o alvo do protesto é uma mulher.

A mulher tem maior direito que o homem de não aparecer descuidada e fisicamente depreciada em fotos de tanta repercussão.

Só essa manobra agressivamente antiestética pode bastar para que os cartazes venham a ser proibidos pela Justiça.

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