terça-feira, 17 de fevereiro de 2009



O CARTAZ DA GOVERNADORA

O Cpers e os seus aliados certamente exageraram na pegada com o 'Fora, Yeda' e com a insinuação explícita (é o princípio pleonástico do fio dental) de que há corrupção no governo gaúcho. Se fosse assim tão simples, Luiz Inácio 'Não Sabia de Nada' já estaria livre para assistir aos treinos do Corinthians há muito tempo. Mensalão para ele seriam também longos meses fora do poder.

A mania do 'fora' fazia sentido durante a ditadura militar e pegou o trouxa do Collor. No fundo, deve ser influência do futebol que os brasileiros tanto amam. Se não estamos contentes com o desempenho do time, gritamos 'Fora, treinador' e tudo se resolve. Troca-se o Celso Roth pelo Tite ou, em caso de muito desespero, o Tite pelo Celso Roth e pronto. Essas verdades banais não justificam a pressão do governo pela retirada do material das ruas.

Esse tipo de intimidação não melhora o cartaz da governadora. Segundo um aliado do governo, Yeda é um trator manobrando delicadamente para tirar um elefante que fumou crack de uma loja de cristais. Essa história de que a campanha do Cpers e dos aliados é fascista ou lembra as táticas do nazismo é conversa de quem vê filmes demais sobre a Segunda Guerra Mundial. Boa parte das críticas dos sindicatos ao governo é pertinente.

O papo de déficit zero se inscreve perfeitamente na ideia dita nazista de que uma mentira (ou uma meia verdade) repetida à exaustão se torna verdade por inteiro. O governo passa a mensagem, com a expressão déficit zero, de que não deve mais, de que liquidou a dívida histórica e está com tudo em dia.

A publicidade é a arte da meia gravidez ou do meio estupro consentido. A verdade enfadonha seria falar em déficit zero nas contas do ano corrente, aceitando-se que um mísero empréstimo de 1 bilhão não deva ser contabilizado para não atrapalhar o raciocínio. Déficit zero não é dívida zero. Números são sempre subjetivos. As contas nunca são as mesmas para oposição e situação.

O Cpers ganharia mais em atacar só o flanco fraco do governo: a educação. A 'enturmação' foi uma medida 'revolucionária' para colocar mais alunos em menos salas de aula e fazer economia com a paciência dos professores e a impotência dos pais.

Não reconhecer piso como salário inicial e recorrer ao STF para contestar essa lei federal estabelecendo como salário-base a fortuna de R$ 950,00 foi uma demonstração de grande apreço pelo magistério. Cortar o ponto dos grevistas, o que não aconteceu em outras greves de funcionários públicos do mesmo período, é bater com o peru na mesa.

O Cpers poderia fustigar também a área cultural. A única secretaria 'imexível' é a da Cultura. Tramita na Assembleia um projeto do Executivo para transformar o Conselho de Cultura numa samambaia de plástico, sem poder de deliberação. Aí aparece o castilhismo autoritário de Yeda e da Leal amiga Mônica.

O governo tem razões e projetos. A sociedade tem direito de manifestar-se quando não está contente. Consta que Zorba, o grego, imortalizado como nome de cueca, definia democracia como o regime em que os governantes são obrigados a aceitar os insultos do povo desde que não infrinjam a lei.

Dizer que Yeda é a face da destruição pode ser de mau gosto e até falso, mas jamais ilegal. Nem o patético 'Fora, Yeda'. Apenas a palavra corrupção era um tanto pesada. Dançou.


juremir@correiodopovo.com.br

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