sábado, 28 de fevereiro de 2009



28 de fevereiro de 2009 | N° 15893
N° 15893 - A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR

Saúde e educação: o binômio indissociável

A volta às aulas, na próxima semana, oportuniza uma reflexão sobre um tema que, no Brasil, sempre é atual: a correlação entre nível educacional e saúde. Dizer que quanto maior o nível educacional melhores as condições de saúde parece uma coisa óbvia;

mas muita gente não tem ideia de como, e de quanto, a educação pode condicionar o destino das pessoas em termos das doenças a que estão sujeitas. Escola e saúde formam hoje um binômio indissociável, e boa parte dos avanços verificados nos indicadores de saúde resultam da atuação da rede de ensino.

É uma coisa que começa desde a infância. Se tomarmos dois grupos de mães, um com baixa escolaridade e outro com escolaridade avançada, verificaremos que – independente das condições de renda! – mães com menor escolaridade tendem a ter mais filhos, e também têm mais filhos prematuros e com baixo peso. Estas gestantes consultam menos no período pré-natal, e, nas crianças a que dão a luz, a mortalidade infantil é bem maior.

Em termos de estilo de vida, a associação também é óbvia. As pessoas de menor escolaridade representam 71% do universo de fumantes existente no Brasil. Um total de 34,6% dos fumantes é de analfabetos ou de pessoas que estudaram até a 4ª série do Ensino Fundamental; 21% completaram o Ensino Médio e apenas 7,4% têm curso superior.

Em relação ao sedentarismo, trabalhos feitos no Brasil mostram que quanto maior a escolaridade, maior é a prática de atividade física. Uma pesquisa em Campinas mostrou que o consumo de álcool de maior risco (capaz de levar a acidentes e doenças) é mais elevado no segmento populacional de escolaridade inferior.

Um trabalho realizado aqui no sul do Brasil mostrou que, entre mulheres, quanto menor é o nível de escolaridade, maior é a chance de obesidade (o que, obviamente, está ligado a uma inadequada escolha alimentar).

Às vezes o problema do déficit educacional vem de longe. Um estudo feito com populações pobres nos Estados Unidos mostrou que filhos de pais com baixa escolaridade tinham piores condições de saúde.

Mais: americanos idosos, com escolaridade precária, tinham mais doenças e menor qualidade de vida. E o nível educacional também influi na sobrevivência após um ataque cardíaco, conforme um estudo da Mayo Clinic.

Poderíamos citar muitos outros exemplos cientificamente comprovados. Não é necessário: a esta altura já é ponto pacífico que uma boa escola é condição básica para melhorar os níveis de saúde. E é, felizmente, uma tarefa que muitos professores vêm cumprindo com entusiasmo. Eles vestiram a camiseta da saúde. O que renova as esperanças dos brasileiros.

Nenhum comentário: