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sábado, 14 de fevereiro de 2009
14 de fevereiro de 2009
N° 15879 - A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR
O riso de Sara
Quando o anjo do Senhor anunciou a Sara, mulher do bíblico patriarca Abraão, que teria um filho, ela, incrédula e feliz a um tempo, riu. O que não surpreende. Até então estéril, Sara estava com 90 anos e, embora a contagem do tempo naquela época fosse obviamente muito diferente da nossa, tudo indica que poderia ser mesmo o que depois se denominou de primípara idosa. Mas a verdade é que deu à luz Isaac, com o que a narrativa bíblica pôde ter prosseguimento.
A gravidez depois dos 50 anos não é muito frequente – nos Estados Unidos são cerca de 600 casos por ano –, mas este número pode aumentar, por conta de vários fatores: a vida profissional, que faz mulheres postergar planos de casamento e filhos, o aumento da expectativa de vida, as técnicas de fertilização artificial.
Alguns exemplos são famosos, o primeiro deles datando do século 18: trata-se da polonesa Margaret Krasiowa, que teria desposado seu terceiro marido aos 94 anos e dado à luz dois filhos e uma filha nos 14 anos que durou o casamento.
Este caso é do tipo “acredite se quiser”, mas outros são bem documentados, como o da americana Aracelia Garcia, que, em 1999, aos 54 anos, teve trigêmeos. Gêmeos teve, aos 51 anos, a pernambucana Rosinete Serrão.
A famosa fotógrafa americana Annie Leibovitz teve uma filha aos 52. O recorde parece ser o da indiana Omkari Panwar, que, em novembro do ano passado, aos 70 anos, teve gêmeos.
Disse então que ser a parturiente mais idosa do mundo não lhe importava; o que lhe importava era cuidar dos filhos enquanto pudesse. Algumas vezes há, por trás dessas gravidezes, uma história tocante; o caso do senador americano John Edwards e sua mulher Elizabeth, que perderam o filho único (16 anos) num acidente. Aos 49 anos ela engravidou de novo e teve uma filha.
Na medicina, a gravidez em faixas etárias mais avançadas sempre foi um clássico tema de debate e de controvérsia. Em primeiro lugar porque há um natural decréscimo da fertilidade com a idade; depois, por causa dos riscos: hipertensão arterial, diabetes, placenta prévia, prematuridade, problemas congênitos.
E existem também as restrições de ordem cultural e legal. Na França, na década de 90, a gravidez pós-menopausa foi proibida por lei. Por outro lado, na Inglaterra, todas as restrições para a fertilização artificial foram retiradas em 2005.
Mas há também o lado positivo da gravidez numa idade avançada. Estamos falando de mulheres maduras, com seus problemas provavelmente resolvidos, com um estilo de vida frequentemente mais sadio (nada de álcool, nada de drogas), com renda maior e melhor acesso a cuidados médicos.
De outra parte, pais maduros podem ficar ofegantes tentando acompanhar os filhos na bicicleta, mas contam com a experiência e a sabedoria dos anos para cuidar das crianças. Todos os prós e os contras têm de ser devidamente pesados. O ideal é que o riso de Sara seja o riso de todas as mulheres, jovens ou idosas, grávidas ou não.
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