quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009



DEPOIS DE DARWIN

Charles Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809. Há 200 anos. A sua obra-prima, 'A Origem das Espécies', foi publicada em 1859.

Há 150 anos. Criador da 'teoria da seleção natural', resumida por seus detratores a 'o homem descende do macaco', o que nem sempre honra os símios e faz pensar em involução em lugar de evolução, Darwin foi motivo de chacota, crítica, ódio, desprezo, menosprezo e até perseguição.

Ele é da estirpe do Freud, espécie cuja obra muda o mundo, altera paradigmas e não deixa ninguém indiferente. Reza a lenda que seu principal defensor, apelidado de 'Buldogue de Darwin' (as espécies evoluem, hoje seria Pitbull de Darwin), Thomas Huxley, teria sido interpelado com esta pergunta: 'O senhor descende de macaco por parte do pai ou de mãe?'.

A resposta teria sido: 'Há macacos mais polidos e honestos que certos homens de cultura sempre a serviço do preconceito e da mentira'. Outros afirmam que Huxley teria respondido laconicamente com outra pergunta: 'E o senhor, irmão?'.

Anedotas não faltam em torno da personalidade fascinante de Charles Darwin. Consta que, antes de tomar a decisão de casar-se, fez duas colunas num papel, uma de prós e outra de contras (casar e não casar). Na primeira, teria anotado: companhia constante e uma amiga na velhice. Bem melhor, de qualquer modo, que um cão. Na outra coluna, havia considerações ainda mais práticas: menos dinheiro para livros e uma terrível perda de tempo.

Sem dúvida, como se vê, Darwin era um racionalista empedernido. Casou-se. Pretendia, quem sabe, confirmar a sua teoria pela prática pessoal. Nada provoca mais o rancor dos homens comuns que uma novidade revolucionária. Darwin pagou o pato. Os resenhistas da época deitaram e rolaram. Sátiras e caricaturas não faltaram para apresentá-lo como o primeiro cientista com rabo.

As ideias de Charles Darwin foram profundamente determinadas pela sua viagem de quatro anos e nove meses pela América do Sul a bordo do navio Beagle. Esteve no fim do mundo, a Patagônia. Passou, obviamente, pelo Brasil.

Décio Freitas buscou numa notícia divulgada na Europa, supostamente por Darwin, o título para o seu livro 'O Maior Crime da Terra', que conta a história dos assassinos da Rua do Arvoredo, cujas vítimas seriam transformadas em linguiça. Não deixa de ser uma forma de dizer que Porto Alegre existiu no mapa mental do grande viajante.

As ideias de Darwin foram apropriadas nos mais diversos sentidos, inclusive para fins pouco nobres como a eugenia, o racismo e o chamado darwinismo social (a lei do mais forte tão ao gosto dos apologistas do deus mercado). Evolução é um termo falsamente otimista.
A seleção natural indica que o mais apto sobrevive.

As baratas adaptam-se muito melhor do que os homens em certos ambientes. Não podem, contudo, construir armas de destruição em massa. O mais apto nem sempre é o mais inteligente. Se Darwin tivesse visto o 'Big Brother', certamente teria evitado a palavra evolução para denominar a sua teoria.

Se não recorresse a involução, por precaução metodológica, teria quem sabe preferido uma palavra mais neutra. Por exemplo, mutação. A verdade, porém, é o que 'Big Brother' prova que Darwin estava certo: o mais apto nem sempre é o melhor do ponto de vista de uma concepção humanista.

Pode ser o pior. Não aquele que se finge de morto, mas aquele que está morto e não sabe.

juremir@correiodopovo.com.br

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