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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
CLÓVIS ROSSI
Nem fingir eles fingem
SÃO PAULO - Confesso que não me emocionou nem um pouquinho a afirmação do senador Jarbas Vasconcelos de que "boa parte" de seu partido, o PMDB, gosta mesmo é de corrupção.
Afinal, não conheço um só jornalista que tenha escrito ao menos duas linhas sobre política nos últimos 20 e tantos anos que não tenha, uma vez na vida, dito em voz baixa a mesma coisa que Jarbas grita.
Tampouco conheço um só leitor -que não seja filiado a partido político- que não pense a mesma coisa sobre o PMDB e, de quebra, sobre todos os demais partidos, grandes e médios -ou até alguns pequenos.
Tampouco é novidade. Um certo Luiz Inácio Lula da Silva, antes de ser presidente, já havia dito que o Congresso é formado por uns "300 picaretas". Como o PMDB sempre foi maioria relativa no Congresso, é inescapável supor que Lula acha (ou achava) que "boa parte" do PMDB é formada por "picaretas".
O fato de ter-se unido a eles, uma vez na Presidência, fala mal de Lula, mas não absolve o PMDB. Por tudo isso, não havia uma só razão para prestar muita atenção à fala de Jarbas.
Mas me emocionou, sim, pelas piores razões, a reação do PMDB, esse assobiar e olhar para o lado, como se o senador estivesse falando de outra agrupação. "Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade", reagiu, por exemplo, Michel Temer, ainda presidente do PMDB.
Como não tem? Dizer que "boa parte" do partido gosta de corrupção não é suficientemente específico para iniciar vigorosa ação exigindo nomes? Ou para expulsar o senador por leviandade?
Em outros tempos, o PMDB ou qualquer partido urraria de indignação, fingida ou real. Cada peemedebista esfregaria na cara do denunciante a "ilibada" reputação que diria possuir. Hoje, ninguém mais nem finge indignação, e "ilibada reputação" caiu em desuso.
crossi@uol.com.br
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