quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


CLÓVIS ROSSI

As virgens e a trombose

SÃO PAULO - Começo a temer que o companheiro Fidel Castro venha a tomar o meu lugar como colunista. Afinal, bem na frente de todo o mundo, o inoxidável líder cubano (os cronistas esportivos maldosos diriam ex-líder em atividade) afirmou sem pestanejar que o recém-instalado presidente Barack Obama já perdera a virgindade.
É verdade que Fidel errou na virgindade perdida.

Aludia aos problemas com impostos de vários integrantes do primeiro e do segundo escalão da nova administração norte-americana. São problemas, sem dúvida, mas nada que se compare com a virgindade destroçada do petismo aqui no Brasil.

Onde a virgindade de Obama começa mesmo a perder-se é no desafio econômico. De alguma maneira, e em linguagem obviamente mais polida e técnica, Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times", e Vinicius Torres Freire, que se vai tornando o Martin Wolf tupiniquim (em termos de competência, não de compartilhamento de ideias), disseram ontem a mesma coisa: Obama ainda não achou o "ippon" que derrubaria a crise de uma boa vez.

Por isso, vai-se diluindo aquela sensação -difusa, como toda sensação, mas muito presente- de que, já no dia 21 de janeiro, 24 horas depois da posse, Obama reergueria os Estados Unidos e içaria o mundo com eles.

Pior: não aparece, em lugar nenhum do mundo, um hímen devidamente preservado. A rigor, estamos hoje como estávamos em setembro, o mês em que quebrou o Lehman Brothers, episódio arbitrariamente tomado como o início do fim dos tempos.

Ninguém conseguiu desentupir as veias do sistema financeiro, vítimas de "trombose" na descrição de Christine Lagarde, a ministra francesa de Economia. Sem essa ação, tudo o mais vai continuar girando em falso e não sobrarão virgens nem no paraíso.

crossi@uol.com.br

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