quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009



11 de fevereiro de 2009
N° 15876 - PAULO SANT’ANA


Presídios de brinquedo

Curiosa a fuga do apenado Gilmar dos Santos, o Nenê, 40 anos, do presídio de Taquara, domingo passado.

Segundo fontes da Brigada Militar, elas alertaram a direção do presídio para a possibilidade iminente da fuga.

No entanto, nenhuma providência especial foi tomada.

Já mais intrigante se torna a fuga porque o preso não tinha nada de estar recluso naquele estabelecimento. Ele foi transferido da Penitenciária Estadual do Jacuí, de maior e máxima segurança, sob o pretexto de que tinha familiares em Taquara.

E foi-se ver que não tinha familiar algum em Taquara.

Já depois, o ato da fuga mais pareceu uma encenação. Aproveitando-se do dia de visitas, um homem, não se sabe por que detalhe, rendeu um agente, que foi abrir a cela de onde fugiram Nenê e outros detentos, em três carros que os esperavam na frente do presídio.

A vigilância externa do presídio, também inexplicavelmente, era precária e ofereceu incipiente resistência.

Uma facilidade inexplicável, uma fuga com roteiro, com script.

Uma fuga esperada. Esperada e com preso certo e escalado para fugir.

Impressiona a vulnerabilidade dos presídios gaúchos, exceção ao complexo do Jacuí e ao Presídio Central.

As autoridades judiciárias já tinham alertado para a precariedade e segurança mínima deste presídio de Taquara.

A impressão que dão dezenas de cadeias gaúchas é de que delas não fogem os presos que não querem fugir ou não têm condições econômicas ou de periculosidade para fugir.

Como é então que um presidiário do vulto criminal de Nenê foi dar com os costados num presídio com 165 presos e que apresenta, é incrível, apenas um policial militar em apenas uma guarita externa?

Isto é um presídio de brinquedo, de anedota.

E acabou risível a fuga, sem qualquer reação da guarda interna e tímida reação do guarda da guarita, solitário e sem poder de fogo para reprimir a fuga organizada puerilmente.

Esse tipo de fuga ainda mais deve servir para amedrontar a sociedade.

O que se pensa aqui fora dos muros das cadeias é que há uma supremacia tácita dos atores criminais sobre o sistema de segurança.

Sem recursos humanos para deter a avalancha de delitos que se derrubou sobre o Estado, a polícia e os agentes penitenciários se deixam levar por um desânimo e um abandono que os faz restar entregues praticamente à própria sorte.

E todo o colapso do sistema penal se localiza na superpopulação dos presídios.

Já se chegou ao cúmulo, em diversas regiões do Estado, de juízes, adequadamente, não permitirem mais o ingresso de criminosos nas cadeias, obrigando as autoridades policiais a soltá-los.

Tanto eu já disse, mas nunca é demais repetir: sem cadeias seguras e de tratamento digno aos presos, compatíveis com o castigo penal a que se destinam, não se terá segurança nas ruas.

Mas isso terá de ser repetido à exaustão para que finalmente o governo se convença de que o principal passo para a segurança das pessoas em suas comunidades é a segurança e habitabilidade dos presídios.

A incúria dos governos na questão carcerária até agora fez um casamento exitoso com a opinião pública, que despreza e detesta os presídios, chegando ao cúmulo de as comunidades não permitirem que eles se instalem em seus territórios.

A opinião pública exige que se prendam os bandidos, mas não se esforça um milímetro para construir lugares em que se os prenda.

Aos que não viveram o tempo de Garrincha, Robinho fez ontem um gol contra a Itália que resume toda a malícia e a molecagem do futebol brasileiro.

Os zagueiros italianos foram feitos de bobos por Robinho, que dançou para um lado e para o outro, driblando todos que lhe vinham ao encalço.

Um hino à individualidade.

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