terça-feira, 10 de fevereiro de 2009



10 de fevereiro de 2009
N° 15875 - CLÁUDIO MORENO


O sonho de Alcmena

Alcmena, a mãe de Hércules, cedo se destacou por seu porte de princesa e por sua beleza incomparável. Não foram poucos - tanto homens quanto deuses - que a desejaram, atraídos por sua pele perfeita, por seu corpo flexível, mas, principalmente, fascinados pela luz misteriosa que emanava de seus grandes olhos negros.

Seu coração, no entanto, já tinha dono: ela amava Anfitrião, seu futuro marido, e com ele abandonou a cidade de seus pais para viver em Tebas, onde casaram.

Como toda noiva, ela pretendia ser feliz, mas – por devoção aos deuses da família, ou, quem sabe, por simples capricho de mulher bonita –, declarou ao marido que ele não a teria enquanto seus irmãos, assassinados pelos táfios, não recebessem a vingança merecida. Anfitrião suspirou, resignado, mas, já que este era o único caminho para o leito de Alcmena, organizou uma expedição militar para punir os responsáveis.

Já arrependida de sua exigência, ela ficou aguardando a volta dele, cada vez mais ansiosa para entregar-se, finalmente, ao homem a quem amava – sem suspeitar que lá em cima, no Olimpo, outros planos estavam sendo feitos para ela.

Zeus, infatigável sedutor, planejava dormir com uma mortal para gerar um herói de extraordinária força e valor que viesse defender a raça humana de todas as maldade e perigos – e a escolhida tinha sido Alcmena, pois ela, além de reunir as qualidades necessárias para carregar um filho com sangue divino, tinha despertado nele um intenso desejo de possuí-la.

Sabendo que ela repeliria os avanços de quem quer que fosse, Zeus recorreu a uma de suas artimanhas habituais: bem no dia em que o verdadeiro Anfitrião vencia os inimigos na ilha de Tafos, o senhor dos deuses assumiu sua aparência e foi se apresentar a Alcmena, com um sorriso de triunfo.

Ele ia contar os detalhes de sua vitória, mas o desejo de ambos era tamanho que ela selou-lhe a boca com um beijo e o arrastou para a cama, para sua primeira noite de amor – sem saber que Zeus, amante incansável, tinha ordenado ao deus do Sol que fizesse essa noite durar trinta e seis horas inesquecíveis.

Quando o marido retornou da viagem, estranhou que ela não o abraçasse na cama com o mesmo ardor que ele demonstrava, e foi consultar Tirésias, o adivinho cego, que o pôs a par do acontecido, tranquilizando-o sobre a honestidade da esposa.

Como Alcmena sempre lhe dedicou um amor sincero, Anfitrião acabou se conformando e criou Hércules junto com seu próprio filho; no entanto, até hoje, quando ele está longe de casa, ela se põe diante do espelho, nua, depois do banho, coloca seus melhores brincos, penteia lentamente o seu longo cabelo, feliz só em sonhar que algum dia, talvez, aquela noite única possa se repetir.

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