sábado, 14 de fevereiro de 2009



15 de fevereiro de 2009
N° 15880 - VERISSIMO


RSVP

Ideia para uma peça.

No palco, uma mesa posta para 13 pessoas. Copos, pratos e talheres rústicos, grossas velas toscas e na frente de cada lugar um cartãozinho com o nome de quem deve sentar ali. Ninguém no palco.

Da esquerda aparece um mordomo seguido de um casal elegantemente vestido. O casal entra em cena visivelmente inseguro, olhando para todos os lados. O mordomo anuncia que os outros não demorarão a chegar e diz para o casal ficar à vontade. Se quiserem, podem beber água da moringa. O mordomo sai de cena. O casal se entreolha. Ela diz, num cochicho:

– Onde nós estamos? Ele, cochichando também:

– E eu sei? – Olhe o convite de novo. O homem tira o convite do bolso do smoking e o examina pela décima vez. O convite ainda diz a mesma coisa.

– Só a data, a hora, o endereço e, em baixo, “RSVP”.

– Esse “RSVP” é que é a chave de tudo. Deve ser as iniciais de alguma coisa.

– Mas do quê? – “Reunião dos...”. Sei lá. – Podemos estar no jantar errado.

– Mas o mordomo viu o convite e nos deixou entrar.

– Olhe os cartõezinhos para ver se os nossos nomes estão aí.

Ela (lendo): – “João”, “Tiago”, “Pedro”... – Ele (lendo):

– “Mateus”, “Simão”, “Judas”... – Viu? Nossos nomes não estão aqui. Estamos no lugar errado.

– “Jesus”! – Que foi? – Neste cartãozinho. Está escrito “Jesus”!

Lentamente, eles se dão conta do que isto significa. Fazem a volta da mesa, um para cada lado, lendo os cartõezinhos outra vez. Se reencontram no meio da mesa.

– Aí está - diz ele. - Jesus ao lado de Pedro.

Os dois se encaram, de olhos arregalados e boca aberta. Finalmente ele consegue falar.

– As letras... – Que letras? – Na cruz. Em cima da cabeça de Jesus Cristo. Não eram...

– RSVP! Ele toma uma decisão: – Vamos embora.

– Espera. E se a gente ficasse para...– Está maluca? Isto aqui acaba mal. Não vamos nos meter nesta confusão.

– Mas... – Olhe, o jantar vai ser horrível, acredite. Só pão ázimo, vinho barato e conversa de homem. Você seria a única mulher. Iria se sentir deslocada.

– Sim, mas...– E eles obviamente não estão nos esperando. Pense no vexame. A mulher se convence. Tudo, menos uma gafe social. Os dois saem furtivamente do palco.

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