quinta-feira, 4 de novembro de 2021


04 DE NOVEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

ALENTO NO EMPREGO

O desemprego é a face mais cruel das crises econômicas e dos momentos de hesitação da atividade após um período de retração de setores intensivos em mão de obra. Por trás de taxas e números frios, estão pessoas de carne e osso angustiadas à espera do retorno ao mercado de trabalho para assegurarem dignidade às suas famílias. Embora o nível de incertezas permaneça alto no país, é alentador constatar que, aos poucos, segmentos que padeceram com a pandemia retomam as contratações. É o caso da indústria calçadista no Rio Grande do Sul, ilustrado por reportagem de Anderson Aires publicada na edição de ontem de Zero Hora.

As fábricas de sapatos e outros modelos esportivos e casuais são grandes empregadoras. Além disso, movimentam uma vasta cadeia de insumos, materiais e serviços e, à frente, também indicam tendências de comportamento do consumidor no varejo. Oscilações no setor, portanto, têm o condão de influenciar admissões e dispensas de maneira mais ampla. E o movimento agora é positivo, com benefícios disseminados para a economia do Estado, um dos principais polos coureiro-calçadista no país.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência, apontam que, em setembro, o segmento liderou a criação de postos de trabalho formais na indústria de transformação gaúcha. São quatro meses consecutivos com saldo positivo e, com isso, o resultado do ano supera 8,2 mil vagas, um desempenho animador enquanto as taxas gerais de desocupação permanecem altas no país. Não há dúvida de que grande parte dessa performance do setor está ligada à reabertura das atividades, possível graças aos efeitos do avanço da vacinação, com a queda dos números da covid-19 como consequência. A maior circulação de pessoas tem relação direta com o aumento do consumo de calçados. Ao mesmo tempo, o dólar alto favorece as exportações.

A volta das contratações, felizmente, é percebida ainda nos demais setores. Toda a indústria de transformação gaúcha já criou 50,2 mil postos no ano. Os serviços, área mais machucada pela pandemia, outros 50,6 mil. Agropecuária, comércio e construção civil, da mesma forma, estão no azul.

No acumulado do ano, são 132,6 mil postos com carteira assinada no Estado. No país, o número supera 2,5 milhões. Os indicadores do IBGE também mostram que, no trimestre encerrado em agosto, a taxa de desemprego ficou em 13,2%. No intervalo de três meses finalizado em maio, o percentual era de 14,6%. Nota-se uma melhora nos indicadores, embora o mesmo não se verifique na renda e nos salários. 

Há muito terreno a recuperar, mas, mesmo assim, o fato de mais gaúchos e brasileiros estarem conseguindo trabalho formal ou informal em um momento ainda de instabilidade é significativo diante do período desafiador atravessado pela população, materializado em uma inflação de dois dígitos em 12 meses. A continuidade da melhora, no entanto, depende de uma série de fatores, como menor intranquilidade política e respeito à responsabilidade fiscal, ao lado de medidas auxiliares mas essenciais para atividades intensivas em mão de obra, como a manutenção da desoneração da folha de pagamento.

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