05 DE MAIO DE 2021
DAVID COIMBRA
O que querem os bolsonaristas "sérios"
Os bolsonaristas fizeram manifestações robustas em defesa do governo no fim de semana passado. Muita gente na rua, apesar da pandemia. Parece que bolsonarista não tem medo do vírus, mas, ainda que vivêssemos tempos normais, as manifestações poderiam ser consideradas fortes.
Por que isso?
Não é estranho tanto empenho em defender um presidente grosseiro e um governo errático?
Tenho cá comigo que Bolsonaro não está no centro dessa questão. Não é seu suposto carisma (que ele não tem), suas ideias (que são poucas), sua forma de falar ou de se comportar que motivam essas pessoas. Bolsonaro está sendo defendido por elas porque ele é o cara que elas colocaram lá. Poderia ser qualquer outro, desde que fosse radicalmente contra as propostas de esquerda. Se fosse o Tiririca, seria o tiririquismo; como é Bolsonaro, temos o bolsonarismo.
Mas existe um fundo, digamos, sério na mobilização dessas pessoas. Elas têm razão em muitas de suas reclamações, sobretudo na área da economia. Porque as legislações tributária e trabalhista são realmente exageradas e realmente punem o empresário. Porque o Brasil continua sendo cartorial, burocrático e hostil a quem quer empreender.
Todas essas reformas, e algumas mais, como a federativa e a do código penal, são razoáveis e seriam perfeitamente negociáveis no Congresso. Haveria mudanças aqui e ali, avanços em alguns pontos, recuos em outros. Mas o próprio Bolsonaro não surge defendendo-as com vigor. Suas energias estão todas concentradas na pauta ideológica, em obsessões, como a liberação das armas, e em campanhas bizarras, como a defesa da cloroquina no tratamento da covid.
É aí que estoura a contradição. Se Bolsonaro não é entusiasta das reformas, o seu governo provavelmente não avançará nessa discussão. Assim, as pessoas que saíram às ruas em defesa do governo não conseguirão reformas com a esquerda, que é contra essa pauta, nem com a direita que elas elegeram, que não parece afeita a esse debate. Bolsonaro parece mais preocupado com a reeleição do que com algum projeto de mudança do Brasil.
Quando perceber isso, esse brasileiro sério que saiu às ruas no fim de semana talvez se sinta abandonado. Então ele terá de procurar outro nome para representá-lo. É o que pode fazer a diferença. O ex-bolsonarista, o bolsonarista desiludido, que jamais será esquerdista, pode decidir quem será o próximo presidente do Brasil.
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