01 DE MAIO DE 2021
FLÁVIO TAVARES
VIVER 100 ANOS
Ter vida longa foi sempre meta do ser humano. A Bíblia nos conta de Matusalém, talvez só um símbolo inventado para a longevidade, mas que marcou o Ocidente. A avó da minha mulher tem mais de cem anos, lúcida e de boa saúde, atualizada em tudo e sem vestígios da chamada caduquice.
Mas essa aspiração geral foi criticada pelo ministro Paulo Guedes. Em reunião do Conselho de Saúde Complementar, o principal pedestal do governo Bolsonaro queixou-se de que "no Brasil, todo mundo quer viver cem ou 110 e 120 anos, mas o Estado não tem capacidade de investimento para acompanhar a busca por atendimento médico".
O ministro da Economia entende que "o avanço da medicina e o direito à vida foram responsáveis" por diminuir a capacidade do setor público na saúde. A baixa não se deve à pandemia, frisou.
Só faltou que ele deplorasse que em 2020 a expectativa de vida no Brasil beirasse os 77 anos, quando em 1945 era de apenas 45,5 anos?
A falsa alegação sobre o sistema de saúde, porém, desnuda o toque desumano do que seja governar e que, hoje, virou regra. Quando Bolsonaro apelidou a covid-19 de "gripezinha", talvez fosse só um rompante de personalidade. Mas culpar "os avanços da medicina" pela vacinação tardia é abalroar o absurdo.
Quem for contra viver saudável aos cem anos, que aplauda o ministro que eu julgava um conservador lúcido!
As ideias fixas têm tom perverso por se desligarem da realidade. Assim é, por exemplo, a decisão do governador Leite (aprovada, em princípio, pelo Legislativo) de vender a Corsan, o Banrisul e a Procergs sem consultar o povo em plebiscito, como manda a Constituição estadual.
Por que desfazer-se de empresas que são instituições do desenvolvimento e modernização do Rio Grande para transformá-las em meros aglomerados privados em busca de lucros?
Nos últimos quatro anos, a Corsan (hoje com patrimônio líquido de R$ 8,3 bilhões) gerou mais de R$ 1,2 bilhão de lucros ao Estado e foi eficiente tanto no abastecimento d?água quanto no sistema de esgotos. O Banrisul atua como banco de desenvolvimento, financiando empreendimentos de pequeno, médio e grande portes. Nasceu para isto e, mesmo assim, é lucrativo. Com patrimônio líquido de R$ 8,3 bilhões, obteve em 2020 um lucro líquido de R$ 824 milhões. Seus ativos atuais têm saldo de R$ 91,8 bilhões.
Só a Procergs, por suas características de processadora de dados para o Estado, é deficitária. Mas quanto gastaremos pagando ao setor privado o que a Procergs faz hoje?
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