MOMENTO DE CONVERGÊNCIA
A tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nesta semana está revelando, além da imensa disposição para a solidariedade do povo gaúcho, um raro momento de superação de divergências políticas para a concentração de esforços no atendimento às vítimas da enxurrada. Vale destacar, nesse sentido, a imediata atenção do governo federal às demandas da administração estadual, a mobilização conjunta das prefeituras, a formação de uma força-tarefa por parte dos poderes estaduais, inclusive com a alocação de recursos de seus orçamentos, e até mesmo a pronta adesão das Forças Armadas, com o cancelamento dos desfiles locais do 7 de Setembro para que as tropas participem com maior contingente no auxílio às populações flageladas.
O governador Eduardo Leite, que cancelou viagem à Europa para acompanhar de perto o trabalho de socorro e assistência aos atingidos, interpretou bem o momento de união e solidariedade. Na última quarta-feira, em pronunciamento ao lado dos ministros Waldez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, e de outras autoridades federais, o chefe do Executivo rio-grandense lembrou que não é hora de procurar culpados, mas sim de assegurar proteção, saúde e dignidade às populações das áreas devastadas.
Como consequência prática dessa compreensão mútua, o ministro da Integração garantiu que o governo federal fará reconhecimento sumário dos decretos de emergência das prefeituras gaúchas para agilizar a liberação dos recursos necessários às cidades destruídas pela inundação. A percepção de uma inédita sinergia entre todas as esferas do poder e a grande mobilização de autoridades e voluntários aumentam a perspectiva de que o Rio Grande do Sul superará mais rapidamente a situação de calamidade pública declarada oficialmente pelo governo do Estado.
Nesse contexto, cabe registrar a importância de ações administrativas de menor visibilidade, mas que também impactam diretamente nas condições para a reconstrução. Entre elas estão a decisão do BRDE de suspender por um ano o pagamento de empréstimos por parte das empresas que tiveram suas instalações e seus negócios prejudicados pelas enchentes e também o anúncio da Caixa Econômica Federal sobre a liberação do Fundo de Garantia para trabalhadores atingidos pela calamidade. Salvar vidas, evidentemente, é o mais urgente neste primeiro momento, mas também são indispensáveis ações destinadas à reconstrução física das moradias, dos estabelecimentos comerciais, das escolas e do trânsito, para permitir que as pessoas retomem suas atividades.
Todos sabemos que a atual convergência de olhares e iniciativas diante dessa tragédia sem precedentes não vai durar para sempre, até mesmo porque logo as lideranças políticas e seus representados estarão envolvidos em novas disputas pelo poder. O conflito civilizado de ideias faz parte da democracia. Mas o dramático episódio gaúcho, que ainda exige total atenção das autoridades de todos os níveis, já deixa como consolo a constatação de que a população brasileira, em sua maioria, está consciente de que a vida é o bem maior a ser preservado e de que a única casa da família humana - o planeta Terra - carece cada vez mais do cuidado coletivo de seus ocupantes.
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