05 DE AGOSTO DE 2023
LEANDRO STAUDT
O "shopping" da colônia
Os armazéns foram fundamentais para o desenvolvimento de comunidades no Interior. Quanto mais isolado o povoado, maior a relevância e a variedade de produtos da casa comercial. Além dos negócios, os armazéns eram ponto de encontro de moradores.
Um bom armazém poderia ser comparado aos modernos hipermercados e shopping centers. Claro, em tamanho menor. No livro Nossas Mães e os Sinos de Bochum (Editora Oikos), a escritora Helena Seger resgata a história de 30 moradoras e da localidade de Pinhal Alto, em Nova Petrópolis. Na descrição das rotinas e doslocais, surpreendeu-me a quantidade de produtos e serviços do armazém da família Hennemann.
Falecida em 1997, Isabela Lucila Schmidt Hennemann herdou a casa comercial do pai, João Schmidt. Além de comprar e vender produtos dos colonos, ela aplicava injeções e sabia dos remédios, chás e práticas para curar doenças. No balcão, virava conselheira sentimental e confidente de outras mães.
O armazém oferecia desde alimentos e tecidos até fogões e máquinas de costura. No armário da “farmácia”, não faltavam pomada Springer, Olina, Biotônico Fontoura e outros. Em uma caixa de madeira no balcão, ficavam as correspondências deixadas pelo ônibus que chegava da cidade.
A casa comercial mantinha ainda um sistema de poupança. Moradores podiam aplicar o dinheiro, recebendo o saldo acrescido de juros na hora do resgate. Lá, ficava o único telefone disponível na comunidade.
Até gasolina era vendida. Uma bomba era colocada dentro de tonel e, com uma manivela, abasteciam-se os automóveis. O negócio também tinha açougue e matadouro. Quando um morador estava muito doente, o que a família fazia? Batia na porta dos Hennemann. Se fosse de madrugada, Lucila acordava o marido para levar o paciente na camionete ao hospital em Gramado ou Dois Irmãos.
Não é mais igual, mas o neto de Lucila mantém o comércio da família na localidade, preservando a memória da avó e de tantos outros comerciantes dos inesquecíveis armazéns.
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