quarta-feira, 11 de janeiro de 2012



11 de janeiro de 2012 | N° 16944
PAULO SANT’ANA


Réquiem para os mortos

Deixe ver se eu entendo: o governo Tarso Genro entrou em confabulações com os delegados de polícia e os oficiais da Brigada Militar com vistas a reajustar os vencimentos dessas duas categorias, que, como se sabe, ganham valores iguais há mais de 60 anos.

Vai daí que o governo, através do secretário Pestana, garantiu para os delegados de polícia que eles, a partir de 2013, ganharão reajustes, num conta-gotas que irá até 2018. Portanto, seis anos de angustiosa espera e injeção chuleada de adrenalina.

Segundo Wilson Muller Rodrigues, presidente da Associação dos Delegados de Polícia, um delegado que ganha hoje R$ 7,5 mil ganhará, em 2018, R$ 24 mil, o que já ganham hoje os procuradores, sendo que a Justiça baixou há anos uma sentença fria que dava aos delegados o mesmo direito dos procuradores.

Temos, então, que, em seis anos, os delegados, pela proposta já aceita do governo atual, ganharão o que ganham hoje os procuradores.

Só que, até 2018, os procuradores receberão todos os anos reajustes iguais aos que recebem todos os anos os juízes e os promotores.

Sendo assim, os delegados ganharão em 2018 R$ 24 mil mensais, enquanto os procuradores estarão ganhando algo em torno de R$ 40 mil mensais, o que significará a mesma injustiça salarial que se verifica hoje.

Uma barbaridade.

Como os delegados estão desesperados pela miséria vergastante que recebem há muitos anos, aceitaram a enganosa proposta. Eu também a aceitaria.

Só que os delegados de polícia, durante todo este ano de 2012, receberão exatamente zero de aumento, isto é, nenhum tostão. Enquanto os oficiais da Brigada Militar, sorrateira e inteligentemente, vão receber em todo este 2012, a partir já deste mês de janeiro, 10% de reajuste em seus vencimentos, enquanto que os delegados ficarão literalmente a ver navios.

Mais uma vez a Polícia Civil leva uma rasteira do governo em favor da Brigada Militar.

Isto já está se tornando uma rotina, um ramerrão.

Quando presente à assembleia dos delegados que iria aceitar e aceitou a proposta do governo que manda reajustar os vencimentos dos delegados até 2018, repito, num conta-gotas cujo primeiro pinguinho vai jorrar somente em 2013, um delegado de polícia cochichou no ouvido de outro: “Este é um reajuste que será usufruído somente pela minha viúva e por seu novo e então companheiro”.

Ou seja, mandando o governo que os delegados sejam aumentados como merecem em 2018, não foi reajuste para os delegados que o governo Tarso Genro decretou: foi um pecúlio.

É um réquiem.

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