quarta-feira, 4 de janeiro de 2012



04 de janeiro de 2012 | N° 16936
PAULO SANT’ANA


Uma proposta razoável

Em face de minha tontura, que me inferniza a vida já há três anos, estou fazendo uma proposta que vai sacudir o meio médico.

Há três anos, estou com tontura e não consigo qualquer diagnóstico médico, ninguém sabe o que é, desconfiam de que sofro séria crise do labirinto.

Mas já faz três anos, minha gente.

Em face disso, estou lançando uma proposta que vai agitar o meio médico brasileiro e talvez até internacional.

Quero criar a taxa de sucesso na cobrança dos honorários médicos.

Funciona assim como já funciona em inúmeros negócios: eu vou convocar os neurologistas de Porto Alegre para que os interessados entre eles me procurem e tracemos a seguinte relação: o neurologista que for me tratar, digamos assim, teoricamente realizará 30 consultas comigo.

Ao fim das consultas, se ele tiver me curado, eu pagarei a ele o valor em dobro das consultas. Se ele não tiver me curado, eu não pagarei nenhum tostão a ele.

Ficarão assim mais seguras, mais pragmáticas, mais sólidas em confiança as relações entre médicos e pacientes.

Curou, levou. Não curou, não leva nada.

Entre outras vantagens, a minha proposta, que para ter êxito deverá obter o aval do Cremers, tem o condão tanto de fazer cessar o constrangimento dos médicos que cobram honorários sem curar os pacientes quanto também cessará a dor existencial e financeira dos pacientes que gastam os tubos com tratamento médico e não veem qualquer progresso refletidos em sua saúde.

O que estou propondo para a saúde privada é uma revolução.

Estou propondo, em suma, a duplicação dos honorários médicos para aqueles profissionais que confiam em seu taco e terão êxito em seu trabalho junto aos pacientes.

É bem verdade que, por outro lado, estou propondo a redução para zero dos honorários dos médicos que não têm a mínima condição para curar pacientes.

Evidentemente, minha proposta se refere somente aos chamados médicos particulares, aqueles que não atendem pelo SUS e pelos convênios.

Eles se constituem em um exército de profissionais que frequentam suas clínicas privadas, mas que estão, quase todos eles, ligados às atividades hospitalares, seja dos hospitais privados, seja dos filantrópicos e públicos.

É a minha colaboração para o aperfeiçoamento dos serviços médicos, questão que está entre as mais preciosas na minha ligação com o mundo, nesta fase crepuscular da minha vida.

Fui paciente de tantos médicos nos últimos anos, que acabei cultivando profundas relações de amizade com muitos deles, que a par de manterem comigo deliciosas relações intelectuais, tratam dos meus males, curam muitos dos meus males e se constituem em alicerces desta minha vida declinosa.

Mas acontece que eu sou paciente e há três anos não consigo sequer diagnóstico para minha tontura, quanto mais terapêutica.

Algum neurologista topa minha proposta?

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