segunda-feira, 2 de janeiro de 2012



02 de janeiro de 2012 | N° 16934
REPORTAGEM DE CAPA


Novo ano, novos hábitos

A chegada de 2012 é um bom momento para rever práticas e adotar atitudes que possam melhorar as relações pessoais e profissionais

Se a virada do ano o inspira a resoluções que enfatizam cuidar de si, investir na profissão ou se dedicar à família e aos amigos, esqueça a tendência de compartimentar cada um desses três tópicos, listando-os de forma alternada. São itens cumulativos e interdependentes. A ideia dos especialistas é simples: junte tudo em um mesmo projeto para melhorar a qualidade de vida tanto pessoal quanto profissional.

Pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Lisete Barlach, especialista em criatividade e inovação nas empresas, defende a ideia segundo a qual as vidas pessoal e profissional têm complementariedade.

– Seria sábio manter uma vida mais equilibrada. Uma vida voltada só ao trabalho pode gerar consequências sérias – ponderou.

Lisete elaborou a frase acima, silenciou por alguns segundos e estabeleceu sua “resolução ideal”:

– Uma boa resolução seria não fazer só o que é urgente. Nossa cultura é a da urgência. Vivemos resolvendo problemas urgentes e pouco cuidando de nós e de assuntos familiares. Isso tem consequências graves. O desequilíbrio pode afetar a saúde e até a capacidade profissional. Passamos a vida apagando incêndios.

Mais que a urgência impregnada em nossa cultura, Lisete alerta as pessoas para a tendência de “enfatizar apenas um dos lados da vida, o lado profissional, de trabalho”. Se há quem dê atenção excessiva a esse aspecto, outros vivem o drama de relaxar e, com isso, perder espaço e relevância profissional. O segredo, portanto, é estar sempre alerta e disposto – nem que seja preciso mudar de comportamento.

A pesquisadora faz uma analogia com a situação do esportista que usa doping para ter um efeito imediato, mas vê sua trajetória comprometida. Trata-se de buscar a sustentabilidade do que ela classifica como um tripé incentivado acertadamente por algumas empresas: as vidas pessoal, familiar e no trabalho.

Um ponto importante está na interligação de trabalho e vida pessoal. Conforme André D’Angelo, especialista em consumo na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), o trabalho estafante por vezes é fruto do consumo em excesso – ou pode ser um meio para sustentá-lo.

– Muitas vezes, manter rotinas estafantes de trabalho só se justifica se a pessoa quiser manter padrões de consumo elevados. A redução nos parâmetros do que venha a ser conforto e bem-estar material pode significar igual redução na necessidade de trabalho – e, consequentemente, mais tempo livre para outras atividades mais prazerosas – sustenta.

D’Angelo acrescenta o impulso de comprar como um hábito a ser revisto. Explica que praticar o exercício mental de pensar duas vezes (ou quantas forem necessárias) antes de se tomar uma decisão não só afasta compras desnecessárias, como fortalece a sensação de autocontrole, de comando da própria vida. Faz bem, portanto:

– Quando se quer comprar algum supérfluo, aguarde um mês antes de ceder ao impulso. O desejo de consumo é como qualquer outro: vem e passa. Se permanecer depois de 30 dias, ok, permita-se comprar numa boa. É um sinal de que não há por que se privar daquilo e que a aquisição não vai trazer culpa.

Exercitar o desapego a bens materiais, segundo ele, também é uma boa resolução:

– Ver o que há em excesso em casa – roupas, livros, enfeites – e descartar alguns itens pode não ser fácil num primeiro momento, mas costuma compensar no longo prazo. Geralmente, menos coisas significa menos poluição visual e mais organização, o que traz bem-estar.

Pelo menos no imaginário, o momento é de reflexão, e as pessoas tendem a buscar novos hábitos, seja em termos alimentares ou de dedicação à comunidade.

– É um momento de reflexão, em que se celebra o fim de um ciclo, que é um ano, e o começo de outro ciclo. A pessoa reflete e revisa hábitos. Pode funcionar ou não – diz o consultor de novos negócios Igor Oliveira.

leo.gerchmann@zerohora.com.br

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