terça-feira, 8 de novembro de 2011



08 de novembro de 2011 | N° 16880
PAULO SANT’ANA


A carne uruguaia

Ricardo Stefanelli, diretor de Redação de Zero Hora, diz que eu sou o maior vendedor de jornais da história do jornalismo gaúcho.

Ele diz isso para os íntimos, não diz para mim, porque tem um medo pânico de que eu lhe peça aumento salarial.

Eu, vendedor de jornais? Parece que adivinham, quando eu tinha entre 12 e 16 anos de idade, vendi o Correio do Povo de domingo nas ruas da encosta do Morro da Polícia.

Mais tarde, fui entregador do Jornal do Dia, órgão da diocese católica porto-alegrense. Lembro-me que com frio ou com chuva eu entregava o jornal de madrugada, 60 exemplares num percurso de 12 quilômetros.

Hoje, com este surto imparável de assaltos, eu não poderia varar as madrugadas entregando jornais.

Mas fui intrépido naquele tempo. Não tinha dinheiro para comprar galochas nem guarda-chuva, mas entregava todos os dias todos os jornais.

Quando eu tinha 10 anos de idade, em Tramandaí, uma cigana leu o meu destino. E a cigana, vendo a palma da minha mão, vaticinou: “Você será um grande vendedor de jornais”.

Eu nem sabia o que era jornal. Mas a profecia da cigana se confirmou, hoje, todas as manhãs cedinho, o Rio Grande do Sul inteiro abre Zero Hora na minha coluna.

Isso que você, leitor ou leitora, está fazendo agora, todo o Rio Grande faz todas as manhãs.

E eu tomado de tamanha honra.

Sempre que posso, vou muito ao Uruguai. Os uruguaios me conquistaram pela comida, nos tempos em que eu tinha paladar e saliva.

Sou fascinado pelo queso parrillero, adoro o sorvete do Freddo, sabor doce de leite, e um outro que foi recentemente lançado: o dulce de leche tentación, delícia incomparável.

Não sei dizer por que o pão uruguaio é mais saboroso que o brasileiro. Já comeram um ojo de bife no Uruguai? Nunca vi filé mais delicioso.

Esses dias, comi no restaurante do Conrad um espaguete com camarão, molho de nata. Pois em verdade lhes digo: o melhor espaguete que tinha comido em minha vida foi, certa vez, em Veneza, numa mesa de calçada. Este com molho de nata no Uruguai bateu-o inapelavelmente.

Não entendo por que os alimentos no Uruguai são todos mais saborosos. O pêssego do Uruguai é melífluo, o nhoque gratinado do restaurante Lo De Tere, em Punta Del Este é com certeza o mais apetitoso de todos os pratos que jamais consumi.

E um prato que aprendi a gostar no Uruguai foi o de verduras cozidas, vem moranguinha, aipim, couve, batata-doce, aspargos, um negócio tentador.

E mergulhar nos doces da Confiteria Les Delices, em Punta, é algo que diabético igual a mim não ousa colocar defeito.

Tanto a comida do Uruguai nos atraiu, que em Porto Alegre, recentemente, fundaram o Panchos, o Barba Negra e outras parrillas uruguaias que nos matam a vontade de viajar para lá.

Só eu, que sou profundo estudioso do assunto, sei dos três motivos por que a carne argentina e a uruguaia são melhores do que a nossa 1) a província de Buenos Aires tem o solo mais rico em proteínas do mundo, só igual ao da Austrália, que fornece pasto para o gado; 2) eles só matam o gado até três anos de idade; 3) todo o gado abatido no Uruguai e na Argentina é de raça.

O corte da carne para assado também é característico lá, mas o que importa é aquela carne com granito nas entranhas.

paulo.santana@zerohora.com.br

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