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segunda-feira, 7 de novembro de 2011
07 de novembro de 2011 | N° 16879
PAULO SANT’ANA
A saliva e o paladar
Não é porque eu tenha tido câncer nem porque Dilma e Lula também o tivessem, mas acontece que nunca vi tanta incidência dessa moléstia ao meu redor que não tenho dúvida de que há um surto desmedido de câncer em todo o país.
Estes dias estávamos seis pessoas sentadas à mesa do café na Rua padre Chagas, e a metade delas tínhamos câncer ou tivemo-lo.
É impressionante. Na sala em que trabalho, nos lugares que frequento, por toda a parte onde ando existe pessoas que têm ou tiveram câncer.
Tanto é verdade que existe um surto impressionante desta doença no Brasil que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anteontem, anunciou novas e profundas medidas de expansão do tratamento de câncer pelo SUS, principalmente com a criação de mais variadas unidades de radioterapia.
É uma doença terrível este câncer, mortífera. No entanto, nos últimos tempos tem sido admirável o índice de cura do câncer no Brasil.
E mais ainda tem sido admirável o diagnóstico precoce do câncer em nosso país.
É preciso que o governo atue profundamente no alastramento do tratamento quimioterápico e radioterápico pelo SUS.
Eu próprio, por convênio, obtive o diagnóstico de meu câncer na rinofaringe, fiz imediatamente 32 sessões diárias de radioterapia no complexo Mãe de Deus, e lá tive excelente e competente tratamento, ficando sujeito a revisões periódicas sobre o andamento de minha doença.
Minha tia Gerci tem um palpite: diz que há tanto câncer assim porque estão espalhadas por aí muitas antenas de telefone celular, vejam só...
A radioterapia me tirou o paladar, o apetite e a saliva. Já recuperei em meses cerca de 50% do meu paladar. O apetite, sei lá, o fato é que perdi 12 quilos no tratamento, fiquei magro e elegante.
O meu problema crucial é que me restaram apenas 20% da minha capacidade de saliva. Com isso, não posso ingerir alimentos sólidos, tendo de me alimentar somente de líquidos, sucos e sopas. Um espaguete ao sugo ou uma massa carbonara ainda escorregam pela minha garganta de vez em quando.
Só que eu não sabia – nem ninguém sabe – da importância da saliva no funcionamento orgânico e corporal humano.
A boca sem saliva fica seca, toda ela, as gengivas, os dentes, a língua e a garganta.
Além disso, a ausência de saliva prejudica vitalmente a dicção, o que em mim, por trabalhar em rádio e televisão, me angustia.
Que coisa, como a saliva é transcendental na natureza humana!
Espero que com o passar dos meses me volte, se Deus quiser, a saliva, apesar de que já tirei, no passado, por cirugia, três tumores das parótidas, que como se sabe são glândulas salivares.
E o impressionante neste meu dilema de transtorno do paladar é que alguns alimentos me perderam o gosto. E grande parte desses alimentos ficaram com gosto pior para mim.
Mas surpreendentemente alguns raros alimentos e bebidas ficaram com gosto melhor para mim, principalmente as cervejas e o guaraná, pude sentir melhor o seu gosto, o seu sabor.
Que coisa, só quem perde o paladar e a saliva pode dar valor a essas duas funções.
Você, leitor ou leitora, nunca saberá disso, e Deus queira que continue sempre a não sabê-lo.
Hoje, na Feira do Livro, David Coimbra autografa seu livro Um Trem para a Suíça, às 18h30min. O mesmo acontece com o Jones Lopes da Silva, às 19h30min, com seu livro No Último Minuto, a história do Escurinho.
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