segunda-feira, 7 de novembro de 2011



07 de novembro de 2011 | N° 16879
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


O cão grego

Quando a inteligência brasileira falava do absurdo do atual modelo econômico e financeiro escolhido pelas nações proeminentes do Hemisfério Norte, era tachada de retrógrada, ou pior; mas todos os indícios levavam à catástrofe, ora representada pelo desordenado endividamento público e pela ampliação abissal das desigualdades entre os cidadãos.

Eram indícios, mas absolutamente visíveis, e o noticiário logo comprovou suas consequências: desemprego em massa, falências em cascata, vulnerabilidade social de todas as classes e, no geral, desalento e ausência de esperanças. Os “indignados” enchem as praças e dão muito que fazer às autoridades. Islândia, Irlanda, Grécia, entre tantos: eis um rol de países que não encontram rumo.

A comunidade europeia, na tentativa de salvar os dedos, perde seus anéis em empréstimos e perdões de dívidas, mesmo sabendo que isso não resolverá a questão central, que é o modelo escolhido. A situação da Grécia, à beira do precipício, ou já em queda livre, é o exemplo vivo.

Até os cães sabem disso, e seu símbolo é o célebre vira-latas Loukânikos, junto aos manifestantes, latindo furiosamente para a repressão policial. Veja no YouTube.

Já as nações proeminentes não previram o sucesso do modelo brasileiro que, segundo a lógica dessas mesmas nações, tinha tudo para dar errado: era impossível, inadmissível, conjugar o crescimento econômico com justiça social. E assim ficamos: o errado era o certo, e o certo era o errado, numa dessas espetaculares lições que nos dá a História.

Complementarmente, cabe dizer que a mesma História nos ensina que todo império, mais cedo, ou mais tarde, entra em colapso, num processo autofágico decorrente da singular visão míope que, via de regra, tem dos seus vizinhos.

O quadro de tensão política que vivem aqueles países, entretanto, não é causa, mas resultado, e traz consigo algo mais grave: a possibilidade do esgotamento institucional, de decorrências imprevisíveis.

O momento é grave, muito mais do que possamos pensar; mas em termos de pensamento, a Europa tem muito a dar e ensinar, inclusive acerca da esperança; nações que criaram D. Quixote, Hamlet, o Iluminismo, Camões, São Tomás, e Goethe, têm razões de sobra para concentrar-se em seu papel perante o mundo e encontrar soluções, pois recusamo-nos a pensar que se perderam nas contas.

Quanto à Grécia, bem: esta produziu Homero, Ésquilo, Sócrates, Platão e Aristóteles, mestres do bom senso e da sã razão mas, ao que parece, neste momento Loukânikos está falando [digo, latindo] mais forte.

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