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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
03 de novembro de 2011 | N° 16875
ARTIGOS - José Alberto Wenzel*
Relógio sem ponteiros
Há 19 anos e cinco meses, o auditório internacional da ONU estava vazio.
Permaneciam cadeiras e mesas com os nomes dos chefes de Estado, reis e primeiros-ministros. A Eco-92 terminava.
Agora, faltando sete meses para a Rio+20, é inegável constatar que se progrediu na conscientização ambiental e medidas de ordem legal e administrativa, tanto na iniciativa privada quanto pública, foram tomadas.
Contudo, a bandeira ambiental, tão auspiciosamente erguida há 19 anos, flana inquieta, pois sob o jargão da sustentabilidade, a humanidade se encarregou de, a quase tudo, justificar sob o abrangente e preponderante guarda-chuva da economia, tanto que um dos temas fortes da Rio+20, em junho de 2012, será a chamada “Economia verde”.
Na esteira da sustentabilidade, perde-se progressivamente a essência do idealismo ecológico, em contraponto ao crescente aparato normativo, padronizador e monetarizador. Como se com o preenchimento de espaços computadorizados, com o atendimento às listagens de relatórios e valoração pecuniária dos bens e serviços ambientais, estivesse sendo cumprida nossa responsabilidade sustentável. Se importante a normatização, a padronização e avaliação valorativa, primordial é a nossa relação sensível com o ambiente.
Assim, como a relação médico-paciente impera soberana para a boa cura e valiosa prevenção, há que se atentar para a sensibilidade entre os que buscam a intervenção na natureza e quem opera nos encaminhamentos e sua avaliação nas diferentes esferas, fases e pertinências do sistema ambiental.
Neste sentido, cabe nos prepararmos para levar à Conferência Internacional das Nações Unidas o clamor de que podemos ser críticos de nós mesmos e propor a relação de convivência ambiental nos patamares da essencialidade e não da sustentabilidade. Ao invés do engessamento que a sustentabilidade vem promovendo, deixemos a bandeira ambiental desfraldar livre, criativa e responsavelmente assumida.
O relógio, instalado ao lado das bandeiras internacionais, há mais de 19 anos, não parou. Já naquele tempo, os ponteiros não marcavam as horas, mas anunciavam os novos nascimentos. O mesmo relógio nos inclui nos 7 bilhões de pessoas do planeta. Aumentou a responsabilidade vital de todos nós.
*Ambientalista e geólogo
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