Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
MOACYR SCLIAR
Amor e tatuagem
Todas as garotas que conhecia demonstravam seu amor tatuando no braço o nome do amado. Ela não seria diferente
Em tempos de relacionamentos fugazes, uma aliança no dedo já não tem os efeitos de antigamente, e a tatuagem surge como alternativa para selar definitivamente a união. O que nem sempre funciona.
Não faltam exemplos de tatuados apaixonados que depois tiveram de apagar ou cobrir as declarações; por isso, tatuar nomes de namorados costuma ser tarefa ingrata para os tatuadores. Sérgio Maciel, o Leds, do estúdio Leds Tattoo, conta que tenta demover essa ideia dos clientes.
Cotidiano, 7 de junho de 2009
QUANDO foram apresentados, e o rapaz disse seu nome, Julieta quase desmaiou de emoção: ele se chamava Shakespeare, Shakespeare da Silva Barros.
Shakespeare: o autor de "Romeu e Julieta". Coincidência maior seria impossível. Mais que isso, o jovem Shakespeare era alto, bonito, charmoso. Foi, para Julieta, amor à primeira vista.
Verdade que para ela tratava-se do primeiro namorado de verdade, enquanto que Shakespeare já tinha em seu currículo numerosos, e efêmeros, namoros. De qualquer modo, porém, é que começaram a sair juntos, ela cada vez mais apaixonada. E, como prova dessa paixão, resolveu tatuar o nome dele no antebraço.
Para sua surpresa, Shakespeare não mostrou-se entusiasmado, ao contrário, parecia bem contrariado.
Depois de muita vacilação, explicou o motivo desta paradoxal atitude: odiava o próprio nome, escolhido pelo pai, diretor de teatro, um pilantra (segundo o rapaz) que abandonara a família e sumira por completo depois do fracasso de uma montagem de "Hamlet". Deixara aquela herança que Shakespeare da Silva Barros abominava.
Sim, ele sabia que se tratava de um grande dramaturgo inglês, mas jamais lera uma peça do cara. Mais que isso, tinha de explicar, aos inevitáveis curiosos, a origem de seu nome e, pior de tudo, era obrigado a soletrá-lo em lojas, em repartições, em vários lugares. Carga pesada, portanto. Razão pela qual pedia à namorada que não fizesse tal tatuagem.
Julieta não acreditou no que ele estava dizendo. Achou até que aquilo era uma encenação, uma espécie de teste. Todas as garotas que conhecia demonstravam seu amor tatuando no braço o nome do amado.
Ela não seria diferente. De modo que não hesitou: foi a um tatuador conhecido e encomendou o serviço, que ficou muito bom.
Mas foi um desastre. Furioso, Shakespeare disse que não admitia ser contrariado e de imediato terminou o namoro.
Julieta sofreu muito com aquilo. Passava os dias em casa, chorando.
Quando finalmente saiu foi para fazer aquilo que todas as ex-namoradas fazem nessa situação: queria remover a tatuagem. Desta vez não procurou o tatuador conhecido; dirigiu-se a um grande estúdio onde foi atendida por um rapaz simpático, sorridente.
Quando ela disse ao que vinha e quando mostrou a tatuagem, ele arregalou os olhos, incrédulo: Shakespeare também era o nome dele, dado pelo pai, professor de literatura inglesa.
Estão namorando, claro. Shakespeare está muito orgulhoso por ter o nome tatuado no antebraço de Julieta. Não é o autor da obra, mas isso não impede que se sinta consagrado.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário