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domingo, 6 de janeiro de 2008
DANUZA LEÃO
Os novos não-fumantes
A TV mostrou um resistente, dizendo que vai continuar a fumar, e mais: que não vai pagar multa nenhuma
PARIS 1º/JANEIRO - Podem os oceanos inundar os continentes, podem as geleiras derreter, na França inteira, hoje, só existe um assunto, um único assunto:
a proibição de fumar nos restaurantes, cafés, discotecas, em qualquer lugar público fechado. Na televisão não se fala de outra coisa, e vários jornais estamparam em manchete: é proibido fumar.
Franceses são grandes fumantes; alguns são tolerantes, dizem que a lei é a lei, mas a grande maioria é contra. Sobretudo os proprietários dos cafés, que sabem que seus clientes, que pedem uma bebida ou um simples café, lendo um jornal, têm o hábito -para não dizer o vício- de passar horas sentados, olhando o mundo passar; e fumando, é claro.
As multas são altas: 78 euros (cerca de R$ 200) para os desobedientes, 150 euros (quase R$ 400) para os donos dos estabelecimentos e 750 euros (R$ 1.800) para os que facilitarem a vida dos fumantes, deixando cinzeiros sobre as mesas, por exemplo.
Mas existem os revoltados; a televisão mostrou um resistente, dizendo que vai continuar a fumar, e mais: que não vai pagar multa nenhuma, e pronto. Um francês mal humorado consegue ser mais mal humorado do que qualquer raça mal humorada do mundo.
As autoridades foram gentis; no primeiro dia do ano ainda foi tolerado o fumo em lugares públicos, mas, apesar da gentileza, um café ao lado do meu hotel estampou um cartaz, escrito à mão, dizendo: "fumem cada vez mais". Só um francês para ser tão provocador.
Mas há uma certa dúvida na alma de todos; a lei vai ou não pegar? A brigada contra o tabaco se mobilizou, e a maior parte dos anúncios na TV é de adesivos, chicletes e comprimidos para tirar a vontade de fumar.
À meia-noite de terça-feira os últimos cigarros foram apagados, e o clima era dos condenados à morte fumando seu último cigarro.
Paris 2/janeiro - Passei o dia percorrendo os cafés de Paris. O ambiente era curioso; nenhum cinzeiro nas mesas, e o assunto continuava um só: a proibição de fumar (e os fumantes todos falando mal de Sarkozy).
Alguns punham um maço de cigarros e um cinzeiro na mesa, só para implicar, mas os não-fumantes ficavam de olho, e quando um dos revoltados tentou acender o cigarro, foram eles os primeiros a reclamar.
A sorte é que, com a temperatura amena -4C-, as calçadas estão cheias de mesinhas onde as pessoas têm liberdade para fumar (ainda). E alguns anúncios de apartamentos e studios para alugar já especificam: não aceitam fumantes.
A França está começando a mudar, e pequenas coisas vão modificar a vida das pessoas. Todos os colégios do país davam um dia por semana de descanso, às quartas-feiras.
Agora vai ser diferente: como todo o resto do mundo, a folga será no sábado, o que vai permitir que as famílias passem o fim de semana inteiro juntas, o que pode não parecer, mas será uma revolução nos hábitos.
Agora, uma curiosidade minha: como é que um presidente da República começa um namoro?
Onde eles vão, num primeiro encontro? Como ele cortejou a moça, convidou para jantarem juntos? E onde terá sido, no Elysée? E depois da viagem que fizeram, se o affair continuar, como será o próximo encontro?
Ela tem que ficar esperando que ele abra uma brecha em seus compromissos para poder vê-la, imagino, mas ela vai ter que esperar trancada em casa, à disposição? E será que eles passaram juntos a noite do Réveillon?
Escrevo mascando um chiclete, que remédio. Mas daqui a pouco vou botar um casaco bem quente e sentar no terraço de um café; adivinha para quê?
danuza.leao@uol.com.br
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